Islão
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Islamismo[nota 1], Islão (português europeu) ou islã (português brasileiro) (em árabe: إسلام; transl.: Islām), é uma religião abraâmica monoteísta articulada pelo Alcorão, um texto considerado pelos seus seguidores como a palavra literal de Deus (Alá, em árabe: الله ; transl.: Allāh), e pelos ensinamentos e exemplos normativos (a chamada suna, parte do hádice) de Maomé, considerado pelos fiéis como o último profeta de Deus. Um adepto do islamismo é chamado de muçulmano.
Os muçulmanos acreditam que Deus é único e incomparável e o propósito da existência é adorá-Lo.[3] Eles também acreditam que o islã é a versão completa e universal de uma fé primordial que foi revelada em muitas épocas e lugares anteriores, incluindo por meio de Abraão, Moisés e Jesus, que eles consideram profetas.[4] Os seguidores do islã afirmam que as mensagens e revelações anteriores foram parcialmente alteradas ou corrompidas ao longo do tempo,[5] mas consideram o Alcorão (ou Corão) como uma versão inalterada da revelação final de Deus.[6] Os conceitos e as práticas religiosas incluem os cinco pilares do islã, que são conceitos e atos básicos e obrigatórios de culto, e a prática da lei islâmica, que atinge praticamente todos os aspectos da vida e da sociedade, fornecendo orientação sobre temas variados, como sistema bancário e bem-estar, à guerra e ao meio ambiente.[7][8]
A maioria dos muçulmanos pertence a uma das duas principais denominações; com 80% a 90% sendo sunitas e 10% a 20% sendo xiitas.[9] Cerca de 13% de muçulmanos vivem na Indonésia, o maior país muçulmano do mundo.[10] 25% vivem no Sul da Ásia,[10] 20% no Oriente Médio,[11] 2% na Ásia Central, 4% nos restantes países do Sudeste Asiático e 15% na África Subsaariana. Comunidades islâmicas significativas também são encontradas na China, na Rússia e em partes da Europa. Comunidades convertidas e de imigrantes são encontradas em quase todas as partes do mundo (veja: muçulmanos por país). Com cerca de 1,41-1,57 bilhão de muçulmanos, compreendendo cerca de 21-23% da população mundial,[12] o islão é a segunda maior religião e uma das que mais crescem no mundo.[13][14][15] Contudo, estes dados devem ser aceites com alguma reserva, dado que, por motivos óbvios, não existem estatísticas fiáveis sobre o número de muçulmanos que abandonam a religião.[16][17][18][19]
Índice
1 Etimologia
2 História
2.1 Maomé (610-632)
2.2 Expansão e conflitos civis (632-750)
3 Crenças
3.1 Deus
3.2 Os anjos
3.3 Os livros sagrados
3.4 Os profetas
3.5 Julgamento Final
3.6 A predestinação
4 Os cinco pilares do islão
4.1 A profissão de fé (Chahada)
4.2 O Salat (a oração)
4.3 A contribuição de purificação (Zakat)
4.4 O jejum no mês do Ramadão (Saum)
4.5 A peregrinação (haje)
5 Autoridade religiosa
5.1 Lei islâmica (Chariah)
5.2 O Alcorão
6 Escolas e vertentes
6.1 Sunismo
6.2 Xiismo
6.3 Carijitas/Ibadismo
6.4 Sufismo
6.5 Fundamentalismo e radicalismo
7 Demografia
7.1 Países lusófonos
8 Cultura
8.1 Arte e arquitetura
8.2 Calendário
8.3 Lugares sagrados
9 Perspectiva islâmica de outras religiões
10 Ver também
11 Notas
12 Referências
12.1 Bibliográficas
13 Ligações externas
Etimologia
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Islã provem do árabe Islām, que por sua vez deriva da quarta forma verbal da raiz slm, aslama, e significa "submissão (a Alá)".[20] Segundo o arabista e filólogo José Pedro Machado, a palavra "Islão" não teria surgido na língua portuguesa antes de 1843, ano em que aparece no capítulo IX da obra Eurico, o Presbítero, de Alexandre Herculano.[21]
O Islã é descrito em árabe como um "diin", o que significa "modo de vida" e/ou "religião" e possui uma relação etimológica com outras palavras árabes como Salaam ou Shalam (Shalaam / Shalom [3]), que significam "paz".[22]
Muçulmano, por sua vez, deriva da palavra árabe muslim (plural, muslimún), particípio activo do verbo aslama, designando "aquele que se submete". O vocábulo pode ter penetrado no português a partir do castelhano, sendo provável que essa língua o tenha tomado do italiano ou do francês, línguas nas quais o vocábulo surge em 1619 e 1657, respectivamente (no primeiro caso como mossulmani, na obra Viaggi, de Pietro della Valle, e no segundo como mousulmans, na obra Voyages, de Le Gouz de la Boullaye).[23]
Em textos mais antigos, os muçulmanos eram conhecidos como "maometanos", este termo tem vindo a cair em desuso porque implica, incorrectamente, que os muçulmanos adoram Maomé (como, durante alguns séculos, por completo desconhecimento, o Ocidente pensou), o que torna o termo ofensivo para muitos muçulmanos. Durante a Idade Média e, por extensão, nas lendas e narrativas populares cristãs, os muçulmanos eram também designados como sarracenos e também por mouros (embora este último termo designasse mais concretamente os muçulmanos naturais do Magrebe, que se encontravam na Península Ibérica).
Islão pode se referir também ao conjunto de países que seguem esta religião (a jurisprudência islâmica utiliza nesse caso a expressão Dar-al-Islam, "casa do Islão").
História
Ver artigo principal: História do Islão
Maomé (610-632)
Ver artigo principal: Maomé
Na tradição muçulmana, Maomé (c 570 - 8 de junho de 632) é visto como o último de uma série de profetas principais.[24] Durante os últimos 22 anos de sua vida, começando aos 40 anos, em 610, de acordo para as primeiras biografias restantes, Maomé relatou revelações que ele acreditava serem de Deus, transmitidas a ele através do arcanjo Gabriel (Jibril). O conteúdo dessas revelações, conhecido como o Alcorão, foi memorizado e gravado por seus companheiros.[25]
Durante esta época, Maomé pregava ao povo na cidade de Meca, implorando-los a abandonar o politeísmo e adorar um Deus. Embora alguns tenham se convertido ao Islã, Maomé e seus seguidores foram perseguidos pelas autoridades de Meca. Isso resultou na migração para a Abissínia de alguns muçulmanos (ao Império Axumita). Muitos dos primeiros convertidos ao Islã eram os pobres e ex-escravos como Bilal Ibn Rabah al-Habashi. A elite de Meca acreditava que Maomé iria desestabilizar a ordem social através da pregação de uma religião monoteísta, da igualdade racial e do processo de dar ideias aos pobres e seus escravos.[26][27][28][29]
Depois de 12 anos de perseguição de muçulmanos por os habitantes de Meca, Maomé, sua família e os primeiros muçulmanos realizaram a Hégira ("emigração") para a cidade de Medina (anteriormente conhecida como Iatrebe) em 622. Lá, com os convertidos de Medina (Ansar) e os migrantes de Meca (muhajirun), Maomé estabeleceu sua autoridade política e religiosa. Um Estado foi estabelecido em conformidade com a jurisprudência econômica islâmica. A Constituição de Medina foi formulada, instituindo uma série de direitos e responsabilidades para os muçulmanos, judeus, cristãos e para as comunidades pagãs de Medina, unindo-os dentro de uma comunidade - a Umma.[30][31]
A Constituição estabeleceu: a segurança da comunidade, a liberdade religiosa, o papel de Medina como um lugar sagrado (com proibição da violência e de armas), a segurança das mulheres, as relações tribais estáveis dentro de Medina, um sistema fiscal para apoiar a comunidade, os parâmetros para alianças políticas exógenas, um sistema de concessão de proteção das pessoas importantes e um sistema judicial para a resolução de litígios em que os não-muçulmanos também poderia usar as suas próprias leis. Todas as tribos assinaram o acordo para defender Medina de todas as ameaças externas e de viver em harmonia entre si. Dentro de alguns anos, duas batalhas foram travadas contra as forças de Meca: a primeira, a Batalha de Badr em 624, foi uma vitória muçulmana, e, em seguida, um ano depois, quando os habitantes de Meca retornaram a Medina, houve a Batalha de Uhud, que terminou de forma inconclusiva.
As tribos árabes no resto da Arábia, em seguida, formaram uma confederação e durante a Batalha da Trincheira sitiaram Medina com a intenção de acabar com o Islã. Em 628, o Tratado de Hudaybiyah foi assinado entre Meca e os muçulmanos e foi quebrado por Meca dois anos depois. Após a assinatura do tratado muito mais pessoas se converteram ao Islã. Ao mesmo tempo, as rotas comerciais de Meca foram cortadas quando Maomé trouxe as tribos do deserto circundantes para o seu controle.[33] Em 629, Maomé foi vitorioso na conquista, quase sem derramamento de sangue, da cidade de Meca, e até ao momento da sua morte, em 632 (com a idade de 62), ele conseguiu unir as tribos da Arábia sob um único sistema político e religioso.[34]
Expansão e conflitos civis (632-750)
Ver artigos principais: Expansão islâmica, Primeira Guerra Civil Islâmica e Segunda Guerra Civil Islâmica
Com a morte de Maomé, em 632, a discordância eclodiu sobre quem iria sucedê-lo como líder da comunidade muçulmana. Abacar, um companheiro e amigo próximo de Maomé, foi nomeado o primeiro califa. Durante a liderança de Abacar os muçulmanos se expandiram à Síria depois de derrotar uma rebelião de tribos árabes em um episódio conhecido como as guerras Ridda, ou "Guerras de Apostasia".[35] Neste período, o Alcorão foi compilado em um único volume.
A morte de Abacar, em 634, resultou na sucessão de Omar como o califa, seguido por Otomão, Ali e Haçane ibne Ali. Os primeiros califas são conhecidos como al-khulafā' ar-rāshidūn ("califas bem orientados"). No governo deles, o território sob o domínio muçulmano expandiu profundamente em regiões persas e em territórios bizantinos.[36]
Quando Omar foi assassinado por um persa em 644, a eleição de Otomão como sucessor foi recebida com uma crescente oposição. Cópias padrão do Alcorão também foram distribuídos em todo o Estado islâmico. Em 656, Otomão também foi morto e Ali assumiu o cargo de califa. Após a primeira guerra civil (a "Primeira Fitna"), Ali foi assassinado por carijitas em 661. Após um tratado de paz, Moáuia I chegou ao poder e começou o Califado Omíada.[37]
Estas disputas pela liderança política e religiosa daria origem ao cisma na comunidade muçulmana. A maioria que aceitava a legitimidade dos três governantes antes de Ali ficou conhecida como os sunitas. A minoria discordante, que acreditava que somente Ali e alguns de seus descendentes deviam governar, ficou conhecida como os xiitas.[38] Após a morte de Moáuia em 680, o conflito sobre a sucessão eclodiu novamente em uma guerra civil conhecida como o "Segunda Fitna".
A dinastia Omíada conquistou o Magrebe, a Península Ibérica, a Gália Narbonense e Sinde.[39] As populações locais de judeus e de cristãos nativos eram perseguidas por serem minorias religiosas e os muçulmanos tributavam-nas pesadamente para financiar as guerras bizantino-sassânidas, o que ajudou os muçulmanos a tomarem terras de bizantinos e persas, resultando em conquistas excepcionalmente rápidas.[40][41] A partir da Constituição de Medina, os judeus e os cristãos continuaram a usar suas próprias leis no Estado islâmico e tinham seus próprios juízes.[42][43]
Os descendentes do tio de Maomé, Abas, reuniram os convertidos descontentes não-árabes (Mawali), árabes pobres e alguns xiitas contra os omíadas e derrubou a dinastia com a ajuda do general Abu Muslim, o que deu início do Califado Abássida em 750.[44]
Crenças
O islão ensina seis crenças principais:
- a crença em um único Deus;
- a crença nos anjos, seres criados por Deus;
- a crença nos livros sagrados, entre os quais se encontram a Torá, os Salmos e o Evangelho. O Alcorão é o principal e mais completo livro sagrado, constituindo a colectânea dos ensinamentos revelados por Deus ao profeta Maomé;
- a crença em vários profetas enviados à humanidade, dos quais Maomé é o último;
- a crença no dia do Julgamento Final, no qual as ações de cada pessoa serão avaliadas;
- a crença na predestinação: Deus tudo sabe e possui o poder de decidir sobre o que acontece a cada pessoa.
Deus
A pedra basilar da fé islâmica é a crença estrita no monoteísmo. Deus é considerado único e sem igual. Cada capítulo do Alcorão (com a exceção de um) começa com a frase "Em nome de Deus, o clemente, o misericordioso". Uma das passagens do Alcorão frequentemente usadas para ilustrar os atributos de Deus é a que se encontra no capítulo (sura) 59: "Ele é Deus e não há outro deus senão Ele, que conhece o invisível e o visível. Ele é o Clemente, o Misericordioso! Ele é Deus e não há outro deus senão Ele. Ele é o Soberano, o Santo, a Paz, o Fiel, o Vigilante, o Poderoso, o Forte, o Grande! Que Deus seja louvado acima dos que os homens lhe associam! Ele é Deus, o Criador, o Inovador, o Formador! Para ele os epítetos mais belos" (59, 22-24).[45][46][47][48]
Os muçulmanos acreditam que a criação de tudo no universo foi pura ordem de Deus, "Seja e por isso é",[49] e que o propósito da existência é adorar a Deus.[50] Ele é visto como um Deus pessoal que responde sempre que uma pessoa está em necessidade ou quando clamam por seu socorro.[51] Não há intermediários, como um clero, para entrar em contato com Deus, que afirma: "Eu sou mais perto dele do que (sua) veia jugular." A reciprocidade é mencionada no hádice: "Eu sou como o meu servo acha (espera) que sou."[52]
Os anjos
Os anjos são, segundo o islão, seres criados por Deus a partir da luz. Não possuem livre arbítrio, dedicando-se apenas a obedecer a Deus e a louvar o seu nome. Maomé nada disse sobre o sexo dos anjos, mas rejeitou a crença dos habitantes de Meca, de acordo com a qual eles seriam os filhos de Deus.[53] Desempenham vários papéis, entre os quais o anúncio da revelação divina aos profetas; protegem os seres humanos e registram todas as suas ações. O anjo mais famoso é Gabriel, que foi o intermediário entre Deus e o profeta.[54]
Para além dos anjos, o islamismo reconhece a existência dos jinnis, espíritos que habitam o mundo natural e que podem influenciar os acontecimentos. Ao contrário dos anjos, os jinnis possuem vontade própria; alguns são bons, mas de uma forma geral são maus. Um desses espíritos maus é Iblis (Azazel), também ele um jinn, segundo a crença islâmica, que desobedeceu a Deus e dedica-se a praticar o mal.[54]
Os livros sagrados
Os muçulmanos acreditam que Deus usou profetas para revelar escrituras aos homens. A revelação dada a Moisés foi a Taura (Torá), a Davi foram dados os Salmos e a Jesus o Evangelho. Deus foi revelando a sua mensagem em escrituras cada vez mais abrangentes que culminaram com o Alcorão, o derradeiro livro revelado a Maomé.
Os profetas
O islamismo ensina que Deus revelou a sua vontade à humanidade através de profetas. Existem dois tipos de profeta: os que receberam de Deus a missão de dar a conhecer aos homens a vontade divina (anbiya; singular nabi) e os que para além dessa função lhes foi entregue uma escritura revelada (rusul; singular rasul, "mensageiro"). Cada profeta foi encarregado de relembrar a uma comunidade a existência ou a unicidade de Deus, esquecida pelos homens. Para os muçulmanos, a lista dos profetas inclui Adão, Abraão (Ibrahim), Moisés (Musa), Jesus (Isa) e Maomé (Muhammad), todos eles pertencentes a uma sucessão de homens guiados por Deus. Maomé é visto como o Último Mensageiro, trazendo a mensagem final de Deus a toda a humanidade sob a forma do Alcorão, sendo por isso designado como o "Selo dos Profetas". Quando Maomé começou a revelar o Alcorão, ele não acreditou que isso teria proporções mundiais, mas sim que somente reforçaria a fé no Deus.[55]
Esses profetas eram humanos mortais comuns, o islão exige que o crente aceite todos os profetas, não fazendo distinção entre eles. No Alcorão, é feita menção a vinte e cinco profetas específicos. Os muçulmanos acreditam que Maomé foi um homem leal, como todos os profetas, e que os profetas são incapazes de ações erradas (ou mesmo testemunhar ações erradas sem falar contra elas), por vontade de Deus.[carece de fontes]
Julgamento Final
Ver artigo principal: Escatologia islâmica
Segundo as crenças islâmicas, o dia do Julgamento Final (Yaum al-Qiyamah) é o momento em que cada ser humano será ressuscitado e julgado na presença de Deus pelas ações que praticou. Os seres humanos livres de pecado serão enviados diretamente para o Paraíso, enquanto que os pecadores devem permanecer algum tempo no Inferno, antes de poderem também entrar no Paraíso. As únicas pessoas que permanecerão para sempre no Inferno são os hipócritas religiosos, isto é, aqueles que se diziam muçulmanos, mas de facto nunca o foram. Segundo a mesma crença, a chegada do Julgamento Final será antecedida por vários sinais, como o nascimento do Sol no poente, o som de uma trombeta e o aparecimento de uma besta. De acordo com o Alcorão, o mundo não acabará verdadeiramente, mas sofrerá antes uma alteração profunda.[56]
A predestinação
Os muçulmanos acreditam no quadar, uma palavra geralmente traduzida como "predestinação", mas cujo sentido mais preciso é "medir" ou "decidir quantidade ou qualidade". Uma vez que, para o islamismo, Deus foi o criador de tudo, incluindo dos seres humanos, e sendo uma das suas características a omnisciência, ele já sabia, quando procedeu à criação, as características que cada elemento da sua obra teria. Assim sendo, cada coisa que acontece a uma pessoa foi determinada por Deus. Essa crença não implica a rejeição do livre arbítrio, pois o ser humano foi criado por Deus com a faculdade da razão, pelo que pode escolher entre praticar ações positivas ou negativas.[57]
Os cinco pilares do islão
Os cinco pilares do islão são cinco deveres básicos de cada muçulmano:[58]
- a recitação e aceitação da crença (Chahada ou Shahada);
orar cinco vezes ao longo do dia (Salá,Salat ou Salah);- pagar esmola (Zakat ou Zakah);
- observar o jejum no Ramadão (Saum ou Siyam);
- fazer a peregrinação a Meca (haje) se tiver condições físicas e financeiras.
Os muçulmanos xiitas consideram ainda três práticas como essenciais à religião islâmica: além da jihad, que também é importante para os sunitas, há o Amr-Bil-Ma'rūf, "exortar o bem", que convoca todos os muçulmanos a viver uma vida virtuosa e encorajar os outros a fazer o mesmo; e o Nahi-Anil-Munkar, "proibir o mal", que orienta os muçulmanos a se abster do vício e das más ações, e também encorajar os outros a fazer o mesmo.[59]
Alguns grupos carijitas existentes na Idade Média consideravam a jihad como o "sexto pilar do islão". Atualmente alguns grupos do xiismo ismaelita entendem a "fidelidade ao Imam" como sexto pilar do islão.[carece de fontes]
A profissão de fé (Chahada)
A profissão de fé consiste numa frase — que deve ser dita com a máxima sinceridade — através da qual cada muçulmano atesta que "não há outro deus senão Alá e Maomé é seu servo e mensageiro".[60] No entanto, os muçulmanos xiitas têm por costume acrescentar "e Ali é amigo de Alá"[carece de fontes]. Essa frase também é dita quando se chama à oração (adhan).
De acordo com a maioria das escolas islâmicas[carece de fontes], para se converter ao islão é necessário proclamar três vezes a chahada ("testemunho") perante duas testemunhas: "Ashadu anaa la ilaha ila Allah. Ashadu ana Mohammad Rassuluallah" ("Testemunho que não há outra divindade senão Alá. Testemunho que Maomé é seu profeta mensageiro").
O Salat (a oração)
A oração no islão (conhecida como Salá) é composta por cinco partes, todas espalhadas durante o dia e a noite, iniciando pela alvorada até à noite. Considerada o ponto mais próximo que se pode chegar de Deus. No islão não há obrigatoriamente hierarquia entre os adeptos, porém a comunidade, conhecida como ummah, escolhe uma pessoa com conhecimento suficiente para dirigir a adoração.[61]
Durante essas orações, são recitadas suratas do Alcorão, geralmente ditas em árabe, conduzidas pelo escolhido entre a comunidade. Não existe restrição para que o crente reze fora da mesquita, tampouco isso é uma desbonificação de sua oração, que pode ser feita em qualquer lugar, desde que tenha feito antes sua purificação.[58]
A purificação é realizada através da higiene especifica e detalhada, que consiste basicamente em lavar as mãos, os antebraços, a boca, as narinas, a face; em passar água pelas orelhas, pela nuca, pelo cabelo e pelos pés.[61]
Se um muçulmano se encontrar numa área sem água ou numa área onde o uso da água não é aconselhável (porque poderia causar uma doença), pode substituir as abluções pelo uso simbólico de areia ou terra (tayammum). A oração abre-se com a orientação do crente na direcção de Meca (quibla).[61]
A contribuição de purificação (Zakat)
O islão estabelece que cada muçulmano deve pagar anualmente uma certa quantia, calculada a partir dos seus rendimentos, que será distribuída pelos pobres ou por outros beneficiários definidos pelo Alcorão (prisioneiros, viajantes, endividados…). Essa contribuição é encarada como uma forma de purificação e de culto. A quantia corresponde a 2,5% do valor dos bens em dinheiro, ouro e prata, mas o valor pode variar se se tratar, por exemplo, de produtos agrícolas (nesse caso a contribuição pode chegar a 10% da colheita agrícola).
Quem tiver possibilidades pode ainda contribuir, de forma voluntária, com outras doações (sadaqa), mas é importante que o faça em segredo e sem ser movido pela vaidade. O anúncio dessas doações somente poderá ser feito se isso contribuir para que outras pessoas sejam motivadas a fazer o mesmo (caso de personalidades e pessoas proeminentes da sociedade), e esse ato deve ser sincero, mesmo que em público.
O jejum no mês do Ramadão (Saum)
Durante o Ramadão (o nono mês do calendário islâmico), cada muçulmano adulto deve abster-se de alimento, de bebida, de fumar e de ter relações sexuais, desde o nascer até ao pôr-do-sol. Os doentes, os idosos, os viajantes, as grávidas ou as mulheres lactantes estão dispensados do jejum. Em compensação, essas pessoas devem alimentar um pobre por cada dia que faltaram ao jejum ou então realizá-lo noutra altura do ano. O jejum é interpretado como uma forma de purificação, de aprendizagem do auto-controlo e de desenvolvimento da empatia por aqueles que passam fome ou outras necessidades.
O mês de Ramadão termina com o dia de celebração conhecido como Eid ul-Fitr, durante o qual os muçulmanos agradecem a Deus a força que lhes foi concedida para levar a cabo o jejum. As casas são decoradas e é hábito visitar os familiares. Essa comemoração serve também para o perdão e a reconciliação entre pessoas desavindas.
A peregrinação (haje)
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Esse pilar consiste na peregrinação a Meca, obrigatória pelo menos uma vez na vida para todos os que gozem de saúde e disponham de meios financeiros. Ocorre durante o décimo segundo mês do calendário islâmico.
Os muçulmanos vestem-se com um traje especial todo branco, antes de chegar a Meca, para que todos estejam igualmente vestidos e não haja distinção de classes. Durante toda a peregrinação, não se preocupam com o seu aspecto físico. Depois de praticarem sete voltas em torno da Kaaba, os peregrinos correm entre as duas colinas de Safa e Marwa. Na última parte do haje, os muçulmanos devem passar uma tarde na planície de Arafat, onde Maomé disse o seu "Último Sermão". Os rituais chegam ao fim com o sacrifício de carneiros e bodes.
Autoridade religiosa
Não há uma autoridade oficial que decide se uma pessoa é aceita ou excluída da comunidade de crentes. O islão é aberto a todos, independentemente de raça, idade, género ou crenças prévias. É suficiente acreditar na doutrina central do islamismo, acto formalizado pela recitação da chahada, o enunciado de crença do islão, sem o qual uma pessoa não pode ser considerada um muçulmano.
Embora não exista no islamismo uma estrutura clerical semelhante à existente nas denominações cristãs, existe contudo um grupo de pessoas reconhecidas pelo seu conhecimento da religião e da lei islâmica, denominadas ulemás. Os homens que se destacam pelo seu grande conhecimento da lei islâmica podem receber o título de mufti, sendo responsáveis pela emissão de pareceres sobre determinada questão da lei islâmica; em teoria esses pareceres (fatwas) só devem ser seguidos pela pessoa que o solicitou.
Lei islâmica (Chariah)
Ver artigo principal: Xariá
A lei islâmica chama-se Xariá. O Alcorão é a mais importante fonte da jurisprudência islâmica, sendo a segunda a Suna ou exemplos do profeta. A Suna é conhecida graças aos hádices, que são narrações acerca da vida do profeta ou o que ele aprovava, que chegaram até nossos dias através de uma cadeia de transmissão oral a partir dos Companheiros de Maomé. A terceira fonte de jurisprudência é o ijtihad ("raciocínio individual"), à qual se recorre quando não há resposta clara no Alcorão ou na Suna sobre um dado tema. Neste caso, o jurista pode raciocinar por analogia (qiyas) para encontrar a solução.
A quarta e última fonte de jurisprudência é o consenso da comunidade (ijma). Algumas práticas também chamadas de "xaria" têm também algumas raízes nos costumes locais (Al-urf).
A jurisprudência islâmica chama-se fiqh e está dividida em duas partes: o estudo das fontes e metodologia (usul al-fiqh, raízes da lei) e as regras práticas (furu' al-fiqh, ramos da lei).
O Alcorão
Ver artigo principal: Alcorão
Os ensinamentos de Alá (Allah, a palavra árabe para Deus) estão contidos no Alcorão (Qur'an, "recitação"). Os muçulmanos acreditam que Maomé recebeu esses ensinamentos de Deus por intermédio do anjo Gabriel (Jibrīl), através de revelações que ocorreram entre 610 e 632 d.C. Maomé recitou essas revelações aos seus companheiros, muitos dos quais se diz terem memorizado e escrito no material que tinham à disposição (omoplatas de camelo, folhas de palmeira, pedras…).
As revelações a Maomé foram mais tarde reunidas em forma de livro. Considera-se que a estruturação do Alcorão como livro ocorreu entre 650 e 656, durante o califado de Otomão.
O Alcorão está estruturado em 114 capítulos chamados suras. Cada sura está por sua vez subdividida em versículos chamados ayat. Os capítulos possuem tamanho desigual (o menor possui apenas três versículos e os mais longos 286 versículos) e a sua disposição não reflete a ordem da revelação (estão ordenados por tamanho). Considera-se que 92 capítulos foram revelados em Meca e 22 em Medina. As suras são identificadas por um nome, que é em geral uma palavra distintiva surgida no começo do capítulo ("A Vaca", "A Abelha", "O Figo").
Uma vez que os muçulmanos acreditam que Maomé foi o último de uma longa linha de profetas, eles tomam a sua mensagem como um depósito sagrado e tomam muito cuidado com ela, assegurando que a mensagem tenha sido recolhida e transmitida de uma maneira a não trair esse legado. Essa é a principal razão pela qual as traduções do Alcorão para as línguas vernáculas são desencorajadas, preferindo-se ler e recitar o Alcorão em árabe. Muitos muçulmanos memorizam uma porção do Alcorão na sua língua original e aqueles que memorizaram o Alcorão por inteiro são conhecidos como hafiz (literalmente "guardião").
A mensagem principal do Alcorão é a da existência de um único Deus, que deve ser adorado. Contém também exortações éticas e morais, histórias relacionadas com os profetas anteriores a Muhammad (que foram rejeitados pelos povos aos quais foram enviados), avisos sobre a chegada do dia do Juízo Final, bem como regras relacionadas com aspectos da vida diária, como o casamento e o divórcio.
Além do Alcorão, as crenças e práticas do islão baseiam-se na literatura hádice, que para os muçulmanos clarifica e explica os ensinamentos do profeta.
Escolas e vertentes
Sunismo
Ver artigo principal: Sunismo
O sunismo é a maior denominação do Islã e representa 75%-90% de todos os muçulmanos.[62] Os muçulmanos sunitas também são conhecidos pelo nome Ahl as-Sunnah, que significa "povo da tradição [de Maomé]".[14][63] Estes hádices, contos, ações e características pessoais de Maomé, são preservados nas tradições conhecidas como Al-Kutub Al-Sittah (seis grandes livros).
Os sunitas acreditam que os primeiros quatro califas eram os legítimos sucessores de Maomé; uma vez que Deus não especificou nenhum líder específico para sucedê-lo e os líderes foram eleitos. Os sunitas acreditam que qualquer um que é justo e correto pode ser um califa, mas eles têm de agir de acordo com o Alcorão e do hádice, a exemplo de Maomé e dar ao povo os seus direitos.
Os sunitas seguem quatro madhāhib (escolas de pensamento): hanafismo, hanbalismo, maliquismo e Shafi'i, estabelecidos em torno dos ensinamentos de Abu Hanifa, Ahmad ibn Hanbal, Malik ibn Anas e al-Shafi respectivamente. Todos as quatro aceitam a validade das outras e um muçulmano pode escolher qualquer uma que ele ou ela achar mais agradável.[64] O salafismo (também conhecido como Alal Hádice ({{langx|ar||أهل الحديث|||lit. "O povo do hádice"), ou pelo termo pejorativo wahhabismo por seus adversários) é um movimento islâmico ultra-ortodoxo que leva a primeira geração de muçulmanos como modelos exemplares.[65]
Xiismo
Ver artigo principal: Xiismo
Os xiitas constituem 10-20% dos muçulmanos e são o segundo maior do ramo do islamismo.[66]
Enquanto os sunitas acreditam que um califa deve ser eleito pela comunidade, os xiitas acreditam que Maomé indicou seu genro, Ali, como seu sucessor e apenas certos descendentes de Ali poderiam ser imames (líderes). Como resultado disso, eles acreditam que Ali foi o primeiro imame, rejeitando a legitimidade dos califas muçulmanos anteriores Abacar, Otomão e Omar.
O islã xiita tem vários ramos, sendo o maior deles o xiismo duodecimano, seguido pelos zaiditas e pelos ismaelitas. Diferentes ramos aceitam diferentes descendentes de Ali como imames. Depois da morte de Jafar al-Sadiq, considerado o sexto imame pelos duodecimanos, e de Ismaili, os ismaelitas passaram a considerar seu filho, Ismael ibn Jafar, como o imame e os duodecimanos passaram a considerar seu outro filho, Musa al-Kazim, como seu sétimo imame. Enquanto os zaiditas consideram Zayd ibn Ali, o tio de Jafar al-Sadiq, como seu quinto imame.
Outros grupos menores incluem os mustalidas e os drusos,[67] bem como os alauítas e alevitas. Alguns ramos xiitas rotulam outros ramos xiitas que não concordam com a sua doutrina como Ghulāt.
Carijitas/Ibadismo
Ver artigos principais: Carijitas e Ibadismo
Outra denominação que tem origem nos tempos históricos do islão é a dos carijitas. Historicamente, consideravam que qualquer homem, independentemente da sua origem familiar, poderia ser líder da comunidade islâmica, opondo-se às polémicas de sucessão entre sunitas e xiitas. Os ideais carijitas ainda existem no mundo Islâmico, mesmo que de forma diferente da original, através do takfirismo, que é excomungar alguém do Islamismo por ter cometido um pecado grave. Como as formas de julgamento desses grupos são extremamente subjetivas e não tomam por base a aplicação correta da Charia, esses grupos se tornam extremamente violentos contra muçulmanos e não muçulmanos[68]. Os membros de uma vertente desse grupo hoje são mais comumente conhecidos como muçulmanos ibaditas. Um grande número de muçulmanos ibaditas vive hoje no Omã.
Sufismo
Ver artigo principal: Sufismo
Às vezes visto pelos fiéis muçulmanos comuns como um ramo separado do islamismo,[69] o sufismo é antes uma forma de mística que pretende alcançar um contacto direto com Deus através de uma série de práticas que geralmente incluem o ascetismo, a meditação, os jejuns, cantos e danças.
Desconhece-se de onde deriva a palavra sufismo (em árabe: tasawwuf). O termo poderá provir de sūf, "lã", o que se encontra relacionado com o facto de os primeiros sufis vestirem roupas feitas com o material, imitando os ascetas cristãos da Síria e da Palestina. Outra teoria procura relacionar sufismo com a palavra árabe safa, que significa "pureza".[70]
O sufismo já existia como movimento no primeiro século do islão. Para os sufis, o próprio profeta Maomé seria um deles, já que levaria uma vida extremamente simples, tendo por hábito retirar-se de Meca para meditar numa caverna, tendo estabelecido uma relação próxima com Deus. Um dos primeiros representantes do sufismo foi al-Hasan al-Basri (642-728), que rejeitou o materialismo do mundo e criticou os soberanos omíadas. Saliente-se ainda deste período inicial uma mulher, Rabi'ah al-Adawiyah (? - 801), cujo amor por Deus leva-a a excluir o apego ao mundo. Desde os séculos XII e XIII, os sufis organizam-se em ordens ou irmandades (tariqas), que seguem os métodos de realização espiritual ensinados por determinados mestres (os xeques ou pirs)." As ordens sufis podem ser encontradas quer no sunismo, quer no xiismo. O sufismo foi por vezes entendido pelas autoridades ortodoxas muçulmanas como uma ameaça, tendo os seus líderes e adeptos sido alvo de perseguições. O sufismo tem sido igualmente criticado devido ao facto de alguns dos seus mestres terem alcançado um estatuto de santo, tendo sido erguidos santuários nos locais onde nasceram ou faleceram, que se tornaram locais de peregrinações.[71]
Fundamentalismo e radicalismo
Ver artigos principais: Fundamentalismo islâmico e Terrorismo islâmico
Correntes radicais do islamismo frequentemente são acusadas de atos terroristas, como os atentados às Torres Gêmeas, protagonizados nos ataques de 11 de setembro de 2001 pela Al Qaeda. E a defesa intolerante da extinção do Estado de Israel defendida pelo grupo terrorista Hamas. Em sua carta de fundação, por exemplo, o Hamas é claro na defesa da destruição do Estado Sionista [72], sendo apoiado pela maioria do povo palestino. Fundamentalistas também defendem a submissão da mulher, a perseguição a cristãos e o assassinato de dissidentes em países islâmicos [73]. Estima-se que aproximadamente quatro milhões de cristãos libaneses emigraram de seu país em consequência das pressões impostas pelos muçulmanos [74].
A condição de vida das mulheres também é precária em países fundamentalistas islâmicos, como a Arábia Saudita: "Para o pensamento ortodoxo muçulmano, a mulher vale menos do que o homem, explica Leila Ahmed, especialista em estudos da mulher e do Oriente Próximo da Universidade de Massachusetts, nos Estados Unidos […]"[75]. Assim sendo, violências físicas e tratamentos desumanos, como o apedrejamento, são constantes entre os países fundamentalistas: "Segundo a lei islâmica denominada Sharia (Shari'ah ou Charia), uma mulher considerada adúltera deve ser enterrada até o pescoço (ou as axilas) e apedrejada até a morte […]".
A intolerância a críticas também é alvo constante de respostas por parte da imprensa às vertentes radicais do islão. Recentemente, cartunistas dinamarqueses foram ameaçados de morte por publicarem charges consideradas insultuosas para alguns muçulmanos [76], algo comum no Ocidente e sua contraparte cristã. O Papa Bento XVI também foi ameaçado de morte por considerar o islão uma religião violenta [77].
O crítico Daniel Pipes cita uma cadeia histórica de reações radicais a críticas e atos humorísticos por parte de extremistas islâmicos, que vão de ameaças a mortes de dezenas de pessoas.[77] Porém, segundo alguns, o islamismo moderado mostra-se como vertente desejosa da paz, tanto quanto o budismo, o cristianismo, o judaísmo ou qualquer outra grande religião.[78]
Demografia
Ver artigos principais: Mundo islâmico, Umma e Islamismo por país
Um estudo demográfico global de 2009 feito em 232 países e territórios relatou que 23% da população mundial, ou 1,57 bilhão de pessoas, é composta por muçulmanos. Destes, estima-se mais de 75-90% são sunitas e 10-20% são xiitas,[63][79][80] com uma pequena minoria que pertence a outras seitas islâmicas. Cerca de 57 países são de maioria muçulmana[81] e os árabes são responsáveis por cerca de 20% de todos os muçulmanos do mundo.[82] O número de muçulmanos em todo o mundo aumentou de 200 milhões em 1900 para 551 milhões 1970[83] e triplicou para 1,5 bilhão em 2009.
A maioria dos muçulmanos vivem na Ásia e na África.[84] Cerca de 62% dos muçulmanos do mundo vivem no continente asiático, com mais de 683 milhões adeptos em países como Indonésia, Paquistão, Índia e Bangladesh.[85][86] No Oriente Médio, países não-árabes, como a Turquia e o Irã, são os maiores países de maioria muçulmana; na África, Egito e Nigéria têm as comunidades muçulmanas mais populosas do continente.[87]
A maioria das estimativas indicam que a República Popular da China tem de 20 a 30 milhões de muçulmanos (1,5% a 2% da população).[88][89][90][91] No entanto, os dados fornecidos pelo Internacional de Universidade Estadual de San Diego sugerem que a China tem 65,3 milhões de muçulmanos.[92] O Islã é a segunda maior religião depois do cristianismo em muitos países europeus,[93] e está lentamente a aproximar-se a essa situação na América.
Países lusófonos
Ver artigos principais: Islã no Brasil e Islão em Portugal
Em Portugal, existe igualmente uma comunidade muçulmana, que nada tem a ver com os muçulmanos que viveram no país durante a Idade Média; são na sua maioria naturais das antigas colónias portuguesas de Moçambique e Guiné-Bissau, que se fixaram em Portugal após a independência desses territórios. O Islão xiita ismailita também está presente em Portugal, tendo a sua sede no Centro Ismaili de Lisboa, construído pela Fundação Aga Khan. Estima-se que o número de muçulmanos em Portugal ronde os 30 mil.[94]
Segundo o censo de 2000, o Brasil registra 27.239 muçulmanos.[95] Porém, para a Federação Islâmica Brasileira, o número de muçulmanos no Brasil ronda o 1,5 milhão.[96] A maioria dos muçulmanos brasileiros vive nos estados do Paraná e Rio Grande do Sul, mas também existem comunidades significativas no Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul e São Paulo. Grande parte desses muçulmanos são descendentes de imigrantes sírios e libaneses que se fixaram no Brasil durante a Primeira Guerra Mundial.[97]
Na Guiné-Bissau, o islão penetrou na Idade Média, tendo as ordens sufistas desempenhado um importante papel na sua difusão. Reúne hoje cerca de 45% da população. Outro país africano de língua oficial portuguesa com um número significativo de muçulmanos é Moçambique (17,8%).[98]
Cultura
Ver artigo principal: Cultura islâmica
O termo "cultura islâmica" pode ser usado para indicar aspectos da cultura que dizem respeito à religião, como festivais e códigos de vestimenta. Também é comumente utilizado para designar os aspectos culturais de povos tradicionalmente muçulmanos, como os árabes.[99] Por fim, "a civilização islâmica" também pode se referir aos aspectos da cultura sintetizada dos primeiros califados.
Arte e arquitetura
Ver artigos principais: Arquitetura islâmica e Arte islâmica
A arte islâmica engloba as artes visuais produzidas a partir do século VII em diante por pessoas (não necessariamente muçulmanos) que viveram no território que era habitada por populações muçulmanas.[100] Ela inclui áreas tão variadas como a arquitetura, a caligrafia, pintura e a cerâmica, entre outras.
Talvez a expressão mais importante da arte islâmica seja a arquitetura, em especial a de mesquitas.[101] Através desses edifícios, o efeito da variação de culturas dentro da civilização islâmica pode ser ilustrado. A arquitetura islâmica do Norte da África e Península Ibérica, por exemplo, tem elementos romanos e bizantinos, como visto na Grande Mesquita de Cairuão, que contém colunas de mármore e pórfiro de edifícios romanos e bizantinos,[102] no palácio de Alhambra, Granada, ou na Grande Mesquita de Córdoba.
Calendário
Ver artigo principal: Calendário islâmico
O início formal da era muçulmana foi escolhido para ser a Hégira em 622, que foi um importante ponto de virada na vida de Maomé. A atribuição deste ano como o ano 1 AH (Ano da Hégira) no calendário islâmico teria sido feita pelo califa Omar. É um calendário lunar, com dias que duram de Sol a Sol.[103] Os dias sagrados islâmicos caem em datas fixas do calendário, o que significa que elas ocorrem em diferentes estações do ano e em diferentes anos do calendário gregoriano. Os festivais islâmicos mais importantes são o Eid al-Fitr (em árabe: عيد الفطر) no dia 1 do Shawwal, marcando o fim do mês de jejum do Ramadã, e o Eid al-Adha (em árabe: عيد الأضحى) no dia 10 do Dhu al-Hijjah, coincidindo com a peregrinação a Meca.[104]
Lugares sagrados
A Caaba ("O Cubo"), um edifício situado dentro da mesquita principal de Meca (A Masjid al-Haram), na Arábia Saudita, é o local mais sagrado do islão. De acordo com o Alcorão, ela foi construída por Abraão (Ibrahim) para que todas as pessoas fossem ali celebrar os ritos da haje. O segundo local sagrado do islamismo é a mesquita Al-Masjid an-Nabawi, na cidade de Medina, cidade para a qual Maomé e os primeiros muçulmanos fugiram (num movimento conhecido como Hégira), e onde se encontra o seu túmulo. A cidade de Jerusalém é o terceiro local sagrado do islão. Este estatuto advém da sua associação aos profetas anteriores a Maomé e sobretudo pelo facto de os muçulmanos acreditarem que o profeta teria viajado para esse local durante a noite, cavalgando um ser denominado Buraq, numa viagem conhecida como Isra. Uma vez em Jerusalém, ele teria ascendido ao céu (Mi’raj), onde dialogou com Deus e outros profetas, entre os quais Moisés e Jesus. No local de Jerusalém onde se acredita que Maomé subiu ao céu, foi construída a Cúpula da Rocha, em cerca de 690, e a mesquita de Al'Aqsa, sobre as ruínas do antigo Templo de Salomão dos judeus.[105]
Os muçulmanos xiitas consideram ainda como sagradas as cidades de Carbala e Najafe, ambas no Iraque. Na primeira, ocorreu o martírio de Hussein (filho de Ali e neto de Maomé) e dos seus companheiros, quando este contestava o Califado Omíada. No Irão, devem também ser salientadas duas cidades sagradas para os xiitas, Mexad e Qom.[106]
Perspectiva islâmica de outras religiões
Ver artigo principal: Islamismo e outras religiões
O islamismo reconhece elementos de verdade no judaísmo e no cristianismo. Todos os profetas do judaísmo são reconhecidos também como profetas no islão, assim como Jesus, que de acordo com a perspectiva muçulmana teria anunciado a vinda de Maomé. Para os seguidores dessas duas crenças, o Alcorão reservou a noção de "Povos do Livro" (Ahl al-Kitab), estabelecendo que devem ser tolerados devido ao facto de possuirem escrituras sagradas. À medida que os muçulmanos tomaram contacto com outras religiões detentoras de revelações escritas, acabaram em alguns casos por conceder-lhes também esse estatuto (caso do zoroastrismo).
Porém, se o islão reconhece o papel preparatório do judaísmo e do cristianismo, considera igualmente que os seguidores dessas religiões acabaram por seguir caminhos errados. Os judeus tendo tornado-se idólatras e procederam mal ao adorarem o bezerro de ouro, e por rejeitarem Jesus como profeta de Deus. Os muçulmanos acreditam que os cristãos erraram ao considerar Jesus como filho de Deus e ao defender doutrinas como a da Santíssima Trindade, porém acreditam que Jesus é uma criatura de Deus e um profeta de Alá, assim como Adão. Tais erros, segundo os muçulmanos, acarretaram a vinda de outro e último profeta enviado por Deus, Maomé.
Ver também
- Ciência islâmica
- Eurábia
- Expansão islâmica
- Islamismo em Portugal
- Islã no Brasil
- Islamofobia
- Terrorismo islâmico
Notas
↑ O termo islamismo/islamista, unicamente utilizado em português como sinónimo daquele que segue o islão[1] é um galicismo aparecido no século XX que hoje em dia é usado em alguns países para definir, não só a sua visão religiosa, mas principalmentes uma visão mais política dessa mesma doutrina. Assim, em francês o islamismo[2] tanto se pode referir a uma "escolha consciente da doutrina do islão como guia para a acção política" como de uma "ideologia de manipulação do islão com vistas de projectos políticos". Nesta ultima acepção fala-se também do '"islamismo radical", o fundamentalismo islâmico, como forma de combater a agressão que supostamente seria feita pelos ocidentais à identidade arabo-muçulmana, com o fim de transformar um sistema político e social de um Estado usando a xaria, ou seja a interpretação unívoca é imposta à sociedade.[2]
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Ligações externas
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