Dolores Duran









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Disambig grey.svg Nota: Para uma artista, veja Duran.



























































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































Dolores Duran


Informação geral
Nome completo
Adiléia Silva da Rocha
Nascimento

7 de junho de 1930
Origem

Rio de Janeiro
Morte

24 de outubro de 1959 (29 anos)

Gênero(s)

MPB e Samba-Canção
Período em atividade

1946 - 1959



Macedo Neto e Dolores Duran.


Dolores Duran, nome artístico de Adiléia Silva da Rocha (Rio de Janeiro, 7 de junho de 1930 — Rio de Janeiro,
24 de outubro de 1959), foi uma cantora e compositora brasileira.[1]




Índice






  • 1 Biografia


  • 2 Samba-canção


  • 3 Discografia


  • 4 Composições próprias


  • 5 Referências


  • 6 Ver também


  • 7 Ligações externas





Biografia |


Nasceu em uma vila na rua do Propósito, no bairro da Saúde, Zona Central do Rio de Janeiro, onde morou por por alguns anos. Teve uma infância pobre e não conheceu o pai biológico, que abandonou sua mãe grávida. A única informação que possuía de seu pai é que ele era um homem branco, que possuía uma boa condição financeira, tendo sido o primeiro namorado de sua mãe, e que não casou-se com ela e nem quis assumir a sua paternidade por puro preconceito social e
racial, visto que sua mãe era negra e pobre. Aos cinco anos de idade mudou-se do Centro do Rio para um cortiço no bairro da Piedade, subúrbio carioca, com a mãe, Josepha Silva da Rocha, o padrasto, Armindo José de Souza, e com suas meias-irmãs: Denise da Rocha de Souza e Solange da Rocha de Souza. Desde criança gostava de cantar e sonhava em ser famosa. Aos oito anos de idade contraiu uma febre reumática, que quase a levou à morte, e que deixou como sequela um sopro cardíaco gravíssimo.


Aos doze anos de idade, influenciada pelos amigos e convicta de seus sonhos pessoais, resolveu, com a permissão da mãe, inscrever-se num concurso de cantores. Surpreendentemente, ela cantou muito bem, como uma profissional, mesmo sem nunca ter estudado música, e conquistou o primeiro prêmio no programa Calouros em Desfile, de Ary Barroso. As apresentações no programa tornaram-se frequentes, fixando-a na carreira artística.


Quando Adiléia tinha doze anos, teve que abandonar os estudos, parando no ensino primário, para ajudar a mãe e o padrasto com as despesas de casa: A família era muito pobre e passava necessidades. Seu padrasto era um homem negro, alto e forte, sendo um conceituado sargento da marinha, oficialmente viúvo, e pai de dois filhos: Hilton e Hilda, que sempre visitavam o pai, a madrasta e as meias-irmãs Denise e Solange, e mesmo sem laços de sangue, consideravam Adiléia também como meia-irmã. Josepha, sua mãe, era costureira, tendo ensinado o ofício para suas filhas. Junto com as meias-irmãs e a mãe, Adiléia costurava roupas para os vizinhos e para pessoas da alta classe social. Apesar disto, queria trabalhar fora, ser independente e ter um salário fixo. Embora quisesse ser cantora, era muito difícil conseguir de fato uma vaga. Para isso, fez o único teste disponível no momento, que era para atriz. Gravou o texto e fez uma boa cena, e venceu outras candidatas, conseguindo trabalhar como atriz nas rádios Cruzeiro do Sul e Tupi, nesta última no programa "Hora do Guri". Na época em que iniciou sua carreira artística de cantora, as cantoras e atrizes eram mal vistas, do ponto de vista moral, ainda mais se cantassem na noite. Contrariando os costumes daquela época, Dona Josepha, por mais que tenha se oposto a profissão que a filha queria seguir logo que soube do desejo dela de ser artista, temendo seu futuro, com o tempo passou a incentivar a carreira da filha, mesmo seu marido sendo contra e ambos brigando por causa disso, já que era um homem rígido, e como sargento, queria um futuro digno à enteada, assim como desejava aos seus filhos, mas acabou aceitando, para ficar em paz com a esposa. Dona Josepha acompanhava a filha em diversos programas de auditório.


No final dos anos 40, ela conheceu um casal rico e influente: Lauro e Heloísa Paes de Andrade. Heloísa, muito rica, dava saraus e concertos em sua mansão, e percebendo a belíssima voz da jovem, a convidou para se apresentar em sua casa. Muito emocionada, Adiléia aceitou, e fez um grande sucesso, chamando a atenção de radialistas que frequentavam a festa, e assim, fora chamada para gravar algumas canções. Eles a ajudam a se tornar realmente uma cantora e a levam em diversos lugares chiques e reconhecidos, frequentado por famosos. Lauro passa a chamá-la de Dolores Duran, nome inspirado certamente no da atriz americana Dolores Moran, que chegou a ser capa de revista no Brasil.


Sem nunca ter estudado línguas, aprendeu sozinha a cantar em inglês, francês, italiano, espanhol e até em esperanto. Dolores jamais estudou canto e música, mas sua voz não precisava de correção através de aulas. Gravava as letras com sua própria voz, desde os sons mais graves até os mais agudos, o que surpreendia todos que a ouviam. Em diversas publicações de jornal, fora anunciado: Dolores Duran havia nascido com o dom da música, e sua missão era cantar. Ella Fitzgerald durante sua passagem pela bela Cidade do Rio de Janeiro, nos anos 1950, foi à boite Baccarat especialmente para ouvir Dolores e entusiasmou-se com a interpretação de Dolores para "My Funny Valentine" - a melhor que já ouvira, declarou Fitzgerald.[2]


No início de sua peregrinação pelas boites cariocas dos anos 1950, um jornalista passou a elogiá-la constantemente em sua coluna. Esse jornalista era o pernambucano radicado no Rio, Fernando Lobo (compositor bissexto) e pai do músico Edu Lobo, cuja coluna "Mesa de Pista" era publicada no Jornal O Globo. Outro jornalista, também pernambucano e que também estava radicado no Rio, e que a incentivou muito foi Antônio Maria, pois escrevia publicações sobre ela.


Dolores Duran passou a receber inúmeros convites para cantar na noite carioca. Ela cantava em diversas boites no mais boêmio e encantador bairro daquela época: A Lapa, na área central do Rio. Sua fama se espalhou e foi contratada pela Rádio Nacional, uma das maiores rádios do país e que na época só escolhia os melhores cantores. Era a rádio mais disputada. Qualquer artista brasileiro, para fazer sucesso, tinha que estar no Rio, capital política e cultural do Brasil.


Sempre dedicada, já tocava violão, e passou a cantar músicas internacionais no programa "Pescando Estrelas", onde só havia cantoras jovens e conceituadas. Lá ela conheceu e se tornou melhor amiga da cantora da importante Rádio Guanabara e da famosa Rádio Nacional, Julie Joy. Através de Julie, Dolores começou a cantar na Rádio Guanabara, e consolidou sua carreeira. Ela sempre ia para a Zona Sul Carioca gravar as músicas nos estúdios da rádio. Dolores decidiu que era hora de ser independente: Já havia conquistado sua independência financeira, agora era hora de ter sua liberdade pessoal. Com muita tristeza, se despediu da mãe, do padrasto e das irmãs, e saiu de casa. Ela e Julie alugaram um apartamento em Copacabana, pois era mais perto do estúdio da rádio, e Dolores não precisaria ir de bonde até Piedade, e chegar tarde em casa. Apesar disso, Dolores sempre ia visitar sua família e jamais esqueceu sua origem humilde.


Dolores teve muitos namorados. O primeiro foi um garçom da boite Vogue, onde cantava. O apelido desse garçom era Serra Negra. O namorou por alguns meses, mas ele a traiu, e Dolores sofreu. Arrependido, ele pediu para voltar, mas como ela era mulher de uma palavra só, não voltou. Viu que não deu certo na primeira vez, na segunda sairiam brigas novamente. Depois dele, conheceu e começou a namorar o compositor paraense Billy Blanco, com quem ficou por seis meses. Eles eram muito unidos, e Dolores gravou canções dele, já que Billy escrevia várias letras. Dolores também escrevia algumas letras, que ele gravou.


A década de 1950 se iniciou marcante para Dolores, que passou a cantar nas sofisticadas boites do famosíssimo Hotel Glória. Em 1951, Julie lhe apresentou um amigo que era natural do Acre, o tocador de acordeão, chamado João Donato. Logo Dolores se apaixonou por ele, e se encontravam em frente ao Hotel Glória todas as noites após os shows que fazia. Nesses encontros, além de namorarem, tocavam violão e escreviam músicas. Dolores, João e Julie eram grandes parceiros musicais, e sempre saíam juntos, também com outros colegas, para beber e dançar nas boites cariocas. Com os meses de namoro, Dolores e Donato se tornaram noivos, mas Dolores enfrentou o preconceito social da família dele, que não queria que o filho ficasse com uma cantora, uma mulher da noite. Isso revoltou Dolores, mas continuaram juntos, porém, com os meses se passando, eles foram se afastando, e não se casaram devido à oposição da família do rapaz e do preconceito da sociedade: Além de recriminarem Dolores por ser cantora e mulata, a família dele implicava com a diferença de idade. Donato tinha 17 anos, enquanto Dolores tinha 21 e uma mulher mais velha não era bem vista com um homem mais novo. Ela lutou muito para tê-lo ao seu lado, mas ele preferiu ouvir sua família. Donato abandonou Dolores e foi morar no México.


A estreia de Dolores em disco foi em 1952, chamado Músicas para o Carnaval, gravando dois sambas para o Carnaval do ano seguinte: "Que bom será" (Alice Chaves, Salvador Miceli e Paulo Márquez) e "Já não interessa" (Domício Costa e Roberto Faissal). Em 1953, gravou "Outono" (Billy Blanco), e "Lama" (Paulo Marquez e Alice Chaves). Dois anos depois, vieram as canções "Canção da volta" (Antônio Maria e Ismael Neto), "Bom é querer bem" (Fernando Lobo), "Praça Mauá" (Billy Blanco) e "Carioca" (Antônio Maria e Ismael Neto).


Em 1955, seu coração não suportou: Foi vítima de um infarto, tendo passado trinta dias internada no Hospital Miguel Couto. Isto ocorreu pois Dolores resolveu não seguir as restrições que os médicos lhe determinaram, agravando os problemas cardíacos que trazia desde a infância, problemas que só se agravaram com o tempo, pois abusava do cigarro, onde fumava mais de três carteiras por dia, e da bebida alcoólica, principalmente a vodca e o uísque. Ela temia a morte, e convivia com isso desde criança, então, querendo viver tudo que tinha para viver, Dolores se entregava totalmente aos seus desejos sem pensar no amanhã. Era uma mulher intensa e vivaz.


Nas madrugadas, sem conseguir dormir, e sozinha, ela escrevia suas letras nas mesas dos bares, bebendo e fumando, ouvindo canções de bolero, salsa, choro e samba. Inspirava-se em seus casos amorosos e na sua vida em geral, suas alegrias e tristezas para compor suas inesquecíveis letras. Tamanha inquietação que sentia em seu peito, pela falta de um amor sincero, se refletiu em melodiosas e emocionantes canções. Muito inteligente, pensava rápido, e no mesmo instante que queria cantar, já conseguia criar uma letra.


Nesse mesmo ano de 1955, em uma de suas apresentações, conheceu o cantor e compositor Macedo Neto, de quem gravou diversos sambas. Os dois se conheceram nos estúdios de uma gravadora em Copacabana e se apaixonaram. Com poucos meses de namoro, Dolores descobriu que estava grávida, e ficou assustada por ter tido esse descuido, porém, ficou muito feliz. Ela, então, saiu do apartamento que dividia com Julie e foi morar com Macedo Neto no apartamento dele, que ficava próximo do local que morava. Os dois estavam cuidando dos papeis para se casar oficialmente, e também montavam o enxoval do bebê, quando Dolores, ainda no começo da gestação, passou muito mal, e teve uma hemorragia. Encaminhada com urgência ao hospital, onde foi internada, ela descobriu que sofreu um aborto espontâneo, e que não poderia mais engravidar, pois havia tido uma gravidez tubária, que é uma gestação de alto risco que acarreta esterilidade materna e morte do feto. Isto a desestabilizou emocionalmente, a fazendo entrar em depressão.


Após alguns meses vivendo juntos, e tentando recuperarem-se desse episódio fatídico em suas vidas, Dolores e Macedo se casaram em um cartório local, em uma pequena cerimônia civil, e fizeram uma discreta reunião para amigos íntimos e familiares. Dolores Duran passou a assinar Adiléia Silva da Rocha Macedo. Dolores ficou muito triste pois sua mãe não compareceu ao seu casamento, e só uma de suas irmãs foi. A outra irmã mentiu, e disse que ela não foi pois estava cuidando da mãe que não se sentiu bem. Dolores aceitou a história, mas ficou desconfiada. Ainda nos primeiros meses de casamento, os ciúmes de Macedo estavam incomodando Dolores, e ele passou a controlar seus horários e com quem ela mantinha amizade, até de visitar a família ele a proibia, pois dizia que agora a vida dela era ao lado dele. A jovem cantora não o obedecia e ia visitar seus parentes, mesmo contra a vontade dele. Dolores estava muito fragilizada, triste, o marido e ela brigavam constantemente, ele pedia atenção a ela, que sempre estava ocupada com sua profissão. Sempre desconfiado da esposa, não queria mais que ela fizesse shows à noite. Com tudo isso, ele a estava sufocando, e Dolores estava cada dia mais depressiva por não poder ter filhos, e transferiu toda essa carga de dor ao se dedicar integralmente à música, sua maior paixão. Macedo não entendia que Dolores precisava da música para sobreviver, tanto financeiramente quanto emocionalmente. Ele acabou a acusando-a de preferir a música do que ele. Revoltada, Dolores saiu de casa, e resolveu dar um tempo no casamento.


Após passar semanas na casa da mãe, Dolores descobriu, por acaso, que a mãe não foi ao casamento pois seu marido a proibiu de comparecer ao casamento deles, por ser ela negra. Dolores ficou chocada, este fato a deixou perplexa e enfurecida. Uma de suas irmãs só compareceu porque a mãe e a outra irmã pediram para as representar no evento. A jovem voltou para casa e brigou muito com o marido, e a partir daí, a relação ficou muito estremecida. Ele revelou que não gostava de negros e que tinha vergonha que soubessem da origem humilde e mestiça da família da esposa. Dolores sofreu demais, sentiu-se vítima de preconceito, rejeitada e humilhada pelo homem que escolheu para marido e começou a repensar na relação. Após algumas semanas separados, eles reataram, e passaram a viver entre indas e vindas.


Em 1956, após um ano de um casamento recheado de muitas discussões e brigas violentas, com muitas humilhações e traições, Dolores optou pela separação. Ela alugou um apartamento e foi morar sozinha. Ele ainda insistiu, a procurou, mas ela se negou a qualquer investida dele. Dolores entrou na justiça para conseguir a separação oficial, embora ainda o amasse demais. Muito abalada, e sofrendo de insônia, passou a misturar calmantes com bebida alcoólica, além de fumar mais que antes. Em referência à separação dolorosa que teve, Dolores compôs a canção "Fim de Caso", gravado em 78 rpm, um estrondoso sucesso, que a levou direto para a Europa, onde ela cantou e se apresentou em diversos países, nas mais conceituadas casas de show. Lá, ela montou um conjunto musical, com cantores e compositores brasileiros e europeus. Passou a se apresentar dia e noite, fazendo muito sucesso. Da Europa, ela foi cantar no Uruguai, na União Soviética e na China, na companhia de seu conjunto musical, mas, por desentendimento dela com o grupo, que queria que ela cantasse outros ritmos que ela não queria, Dolores mudou de planos e realizou seu grande sonho: Voltou para a Europa, a fim de conhecer a encantadora Cidade Luz, Paris, onde ficou morando por alguns poucos meses em um hotel.


De volta ao Brasil em 1957, fez sucesso na TV e nas rádios com a canção "A fia de Chico Brito", composta por Chico Anysio. Neste mesmo ano, realizou o maior sonho de sua vida, e recebeu a maior bênção que podia ter: Uma filha. Dolores pegou para criar uma recém-nascida, pobre e negra, dando entrada justiça com o pedido oficial de adoção. A mãe biológica da menina era viúva e havia falecido após o parto, pois não aguentou a emoção de ter perdido o marido, que foi uma das vítimas da pior tragédia de colisão de trens do Rio de Janeiro. A bebê iria ficar com a empregada de Dolores, Rita, amiga da mãe da criança, mas por ela ainda não ter se casado, ficando algo muito feio ser mãe solteira, e mais ainda por não ter condições financeiras nenhuma para cuidar da criança, e sabendo do desejo da patroa de ser mãe, Rita acabou entregando a bebê para Dolores, que se encantou perdidamente pela criança. A recém nascida tinha três dias de vida, e havia acabado de sair da maternidade. Naquele instante, todo amor que Dolores tinha contido em sua alma foi liberto, e foi direcionado à criança, que passou a ser o amor de sua vida e a fonte de toda sua atenção e alegria.


Como sua separação oficial ainda não havia saído, e ela sabia como era ruim não ter o nome do pai na certidão, pois fora registrada como filha de mãe solteira e sofria preconceitos com isso, não queria que a menina sofresse dessa mesma forma, e por ser ainda casada, Macedo deveria registrar a criança. No fundo, Dolores ainda tinha a esperança de formar uma família com o homem que amava. Dolores foi conversar amigavelmente com ele, e perguntou se ele queria registrar a menina e ser pai, ou se desquitar dela antes de registrar a criança, pois assim ele não precisaria arcar com essa consequência, e ela assumiria ser mãe solteira. Dolores explicou que a menina era negra, e que não queria que ele tivesse que registrá-la, mas que a lei exigia isso por causa do sobrenome dele, que Dolores ainda assinava. Macedo ficou muito surpreso, mas feliz, e pediu uma segunda chance, e queria provar a Dolores que havia mudado. Então ele revelou que aceitaria a menina com amor, que se arrependida dos preconceitos que tinha, e que sempre quis ser pai. Dolores ficou muito feliz, e com o tempo, eles voltaram a viver juntos, e cancelaram o pedido de desquite. O casal registrou a menina com o nome de Maria Fernanda da Rocha Macedo. Dolores, enfim, tinha sua tão sonhada família, e passou a se dedicar muito ao marido e a filha, amava cuidar do seu lar, mas sem deixar de lado a música. Ela tentou abandonar o vício em cigarro e o exagero no álcool, mas ainda sentia muitas dificuldades em ter uma vida mais equilibrada, pois sofria de ansiedade e precisava de algo que atenuasse suas preocupações. Mesmo com tantos dilemas emocionais, estes conflitos que envolviam sua vida, como o medo de morrer de repente, devido a seu problema cardíaco e deixar a filha órfã, eram temporariamente esquecidos quando acalentava a filha.


No ano seguinte, em 1958, após voltar a sofrer com as traições e os ciúmes de Macedo, que pediu mais uma vez para ela deixar os palcos e ser dona de casa, e reclamar que ela pouco dava atenção a ele e a filha, Dolores deu fim ao matrimônio de forma definitiva, casamento este que durou oficialmente três anos, apesar de um ano de separação e meses de indas e vindas. Poucos meses após romperem, se desquitaram, e Dolores voltou a usar seu sobrenome de solteira. Macedo ainda tentou uma reconciliação, e não queria o desquite, e até brigou na justiça pela guarda da filha, mas após muitos desentendimentos e tristezas, ele aceitou a amizade de sua ex-esposa, e passaram a compartilhar a guarda de Maria Fernanda. Dolores foi morar com a filha em um casarão que havia comprado na Zona Sul do Rio. Dolores levou a mãe, já viúva, e que vivia sozinha devido ao casamento de suas outras filhas, para viver com ela, além da empregada e da babá. Neste mesmo ano, um jovem compositor apresentou a Dolores uma composição dele e de Vinícius de Moraes. Tratava-se de Antônio Carlos Jobim em início da carreira. Em três minutos Dolores pegou um lápis de sobrancelha e compôs a letra da canção "Por causa de você". Vinícius ficou encantado com a letra e, gentilmente, cedeu o espaço a Dolores. Foi revelado, a partir daí, o talento de Dolores para a composição e grandes sucessos, como "Estrada do Sol", "Ideias erradas", "Minha toada" e "A noite do meu bem", entre outros. No entanto, não gravou todas as suas composições, pois o seu repertório estava mais centrado no lado intérprete, além de que seu lado compositora surgiu mais especificamente nos dois últimos anos de sua curta vida. Nesse período compôs algumas das mais marcantes canções da MPB, como "Castigo" e "Olha o tempo passando", entre tantas outras. Seu parceiro mais constante foi o pianista Ribamar. Neste mesmo ano, conheceu um músico mais jovem, chamado Nonato Pinheiro. Ele gostou da cantora, e em pouco tempo de amizade, começaram a namorar.


MORTE


Na noite de 23 de outubro de 1959, depois de um show na boite Little Club, a cantora saiu com seu namorado, Nonato, e com seus amigos, incluindo Julie Joy, para uma festa musical da alta sociedade, somente para artistas selecionados, no requintado Clube da Aeronáutica. Ao sair desse evento, resolveram fechar a noite bebendo, dançando e ouvindo canções na boite Kit Club. A cantora chegou em casa muito alegre, às sete da manhã, do dia 24 de outubro. Sempre amorosa, ela chegou, abraçou e beijou a filha, já com dois anos. Dolores colocou seu maiô e foi relaxar em sua banheira de porcelana, e levou a filha, para lhe dar banho. Dolores sempre divertia a menina nessa hora, fazendo cócegas e a fazendo sorrir. Ela brincava com a filha na banheira, e colocava seus brinquedos para boiar na água e também gostava de entreter a menina ao fazer bolhas de sabão. Em seguida, após se divertir com a filha, a arrumou e a entregou para a babá cuidar, pois ia dormir, já que tinha um show para fazer à noite. Sempre vaidosa, antes de dormir vestia seu robe de seda, e se perfumava e maquiava. Mesmo cansada, estava tranquila, e muito simpática, passou os últimos cuidados à empregada Rita: "Não me acorde. Estou cansada. Vou dormir até morrer!", disse brincando, e sorriu no momento. No quarto, enquanto dormia, sofreu um infarto fulminante - que, à época, foi associado a uma dose excessiva de barbitúricos, cigarros e álcool. À noite, a empregada bateu em seu quarto, visto a demora para acordar, já que a cantora nunca se atrasava para nenhum show. Após conseguir pedir ajuda para arrombar a porta, Rita se desesperou ao perceber que Dolores havia falecido. A morte prematura de Dolores Duran, aos 29 anos, interrompeu uma trajetória vivida intensamente. A cantora e grande amiga Marisa Gata Mansa levou os últimos versos de Dolores para Carlos Lyra musicá-los. Nasceu assim o clássico "O negócio é amar". O ex-marido de Dolores criou a filha adotiva deles, que em entrevistas disse ser grata a esta mulher que a acolheu como filha, embora não se lembre dos momentos que passaram juntas, por ser muito pequena na época de seu falecimento. Mesmo assim, disse amá-la profundamente, e que até os dias atuais ainda cultua sua memória, tentando manter viva através de outros músicos a obra de sua mãe.[3] Encontra-se sepultada no Cemitério do Caju, no Rio de Janeiro.



Samba-canção |


Dolores Duran foi um grande expoente, como cantora e compositora, do gênero samba-canção, surgido na década de 1930. Além dela, destacam-se nesse gênero Maysa Matarazzo, Nora Ney, Dalva de Oliveira e Ângela Maria.


O gênero samba-canção, pode ser comparado ao bolero pela exaltação do amor-romântico ou pelo sofrimento por um amor não realizado. O samba-canção antecedeu o movimento da bossa nova, surgido ao final da década de 1950. Mas este último, um amálgama do jazz norte-americano com o samba do Rio de Janeiro, representou um refinamento e uma maior leveza nas melodias e interpretações, que substituíram o drama pessoal e as melodias melancólicas.



Discografia |







Composições próprias |







Referências




  1. Dicionário Cravo Albim da Música Popular Brasileira: Dolores Duran (Adileia Silva da Rocha)


  2. Dolores Duran no IMDb


  3. Uol Educação. Biografia: Dolores Duran (Adileia Silva da Rocha)



Ver também |



  • Samba-canção

  • Bossa nova


  • Cantoras do Rádio, documentário de 2009 dirigido por Gil Baroni.



Ligações externas |



  • IMMuB - Instituto Memória Musical Brasileira

  • Dolores Duran, o amor, a dor e a música



  • Portal da música
  • Portal do samba
  • Portal do Rio de Janeiro
  • Portal do Brasil




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