Cesariana
Cesariana | |
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Momento em que o bebé é retirado do útero durante uma cesariana | |
Sinónimos | Parto por cesariana, cesárea |
Classificação e recursos externos | |
CID-10 | 10D00Z0 |
CID-9 | 74 |
MedlinePlus | 002911 |
MeSH | D002585 |
Leia o aviso médico |
Cesariana é a utilização de cirurgia para o parto de um ou mais bebés.[1] As cesarianas são muitas vezes necessárias nos casos em que um parto vaginal colocaria a mãe ou o bebé em risco.[1] Entre estes casos estão o parto distócico, gravidez múltipla, pressão arterial elevada da mãe, apresentação de nádegas ou problemas com a placenta ou cordão umbilical.[1][2] Um parto por cesariana pode ainda ser realizado por motivos relacionados com a forma da pelve da mãe ou quando existem antecedentes de outra cesariana.[1][2] A Organização Mundial de Saúde recomenda que as cesarianas só sejam realizadas nos casos em que exista uma justificação médica.[2][3] No entanto, algumas cesarianas são realizadas sem uma justificação médica a pedido de alguém, geralmente da mãe.[1]
Um parto por cesariana tem geralmente a duração de 45 minutos a uma hora.[1] Pode ser realizado sob anestesia espinhal, em que a mulher se encontra consciente, ou sob anestesia geral.[1] É introduzido um catéter urinário para drenar a bexiga e o abdómen é limpo com um antisséptico.[1] Geralmente é feita uma incisão com cerca de 15 cm no abdómen inferior da mulher.[1] O útero é depois aberto com uma segunda incisão e o bebé retirado.[1] No fim, as incisões são suturadas.[1] Geralmente a mulher pode dar início à amamentação assim que desperta da anestesia e sai da sala de operações.[4] Na maior parte dos casos, as cesarianas requerem alguns dias de internamento hospitalar até à mulher ter alta.[1]
As cesarianas apresentam um ligeiro aumento do risco de prognóstico negativo em gravidezes de baixo risco.[2] Também exigem maior tempo de cicatrização do que um parto vaginal, em média de de seis semanas.[1] Os riscos acrescidos por uma cesariana incluem problemas respiratórios no bebé e embolia amniótica e hemorragia pós-parto na mãe.[2] As recomendações internacionais recomendam que não sejam realizadas cesarianas antes das 39 semanas de gravidez sem que haja uma justificação médica.[5] O método de parto não aparenta ter influência na função sexual posterior ao parto.[6]
Em 2012 foram realizadas em todo o mundo cerca de 23 milhões de cesarianas.[7] A comunidade médica internacional tem considerado uma taxa de 10–15% como ideal para o número de cesarianas.[3] Algumas evidências recentes indicam que uma taxa de 19% pode estasr associada a melhores prognósticos.[7] Em mais de 45 países, as taxas de parto por cesariana são inferiores a 7,5%, enquanto em mais de 50 países as taxas são superiores a 27%.[7] Têm sido realizados esforços tanto no sentido de melhorar o acesso como diminuir o recurso a cesarianas.[7] A realização de cesarianas remonta a pelo menos 715 a.C. Geralmente eram realizadas após a morte da mãe e só ocasionalmente é que o bebé sobrevivia. As primeiras descrições de mães qe sobreviveram à intervenção datam do século XVI.[8] Com a introdução dos antissépticos e anestésicos no século XIX, a sobrevivência tanto da mãe como do bebé passaram a ser a norma.[8]
Índice
1 Epidemiologia
1.1 Portugal
1.2 Brasil
2 História
3 Notas e referências
3.1 Notas
3.2 Referências
Epidemiologia |
Portugal |
No ano de 2009 35% dos bebés nasceram por cesariana em Portugal. A taxa está muito acima da Europa, que anda entre os 20% e os 30%[9].
Em 2010 o país registou uma taxa de cesarianas de 36%, um valor muito acima do recomendado pela OMS, que aponta que a taxa não deve ultrapassar os 15%. Os interesses económicos do setor privado da saúde justificam em grande parte o aumento generalizado do número de partos por cesariana realizados nos últimos anos em Portugal. Nos hospitais públicos o fator indutor de cesariana é "a falta de profissionais suficientes 'para que haja tranquilidade' na hora de decidir". Perante o cansaço causado por turnos prolongados, e na presença de trabalhos de parto morosos, a decisão pela cesariana tende a ser tomada para evitar a vigília médica durante a madrugada.[10]
Em 2014 a taxa de cesarianas em Portugal foi de 33%.
Nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde realizaram cesarianas em 28% dos casos, nos privados em 2012 (último ano em relação ao qual há números oficiais), foi realizada cesariana em 66% dos partos.[11]
Brasil |
Em 2014, 56,99% dos quase de 3 milhões de bebês nasceram por meio da cesariana no Brasil[12]. Esta taxa vem crescendo há mais de 20 anos, confirmando a liderança mundial em partos cesáreos[13]. Ela é principalmente atribuida ao alta índice nas instituições particulares e superior à soma do percentual das cesarianas desejadas pelas parturientes e dos casos medicamente necessários[14].
História |
É comum a divulgação da etimologia popular (pseudoetimologia) segundo a qual a palavra cesariana derivaria da forma como nasceu o imperador Júlio César. Segundo João Malalas, a mãe de Júlio César morreu no nono mês de gravidez, e sua barriga foi cortada; daí que ele recebeu o nome de César que quer dizer cortar na língua dos romanos[15][Nota 1]. Na verdade, a palavra tem origem no verbo caedo -is, cecidi, caesum, caedere, que significa cortar e está presente nas palavras ciseaux, do francês, e scissors, do inglês, que significam ambas "tesoura"[16]. Outra evidência da impropriedade da associação com o governante romano são os registros do uso desse procedimento de parto antes mesmo da época de Júlio César: assim teria vindo à luz Cipião, o Africano[17].
Notas e referências
Notas
↑ O nome Júlio César era usado por vários ancestrais de Júlio César, como seu pai e outros parentes de nome Lúcio Júlio César
Referências
↑ abcdefghijklm «Pregnancy Labor and Birth». Office on Women’s Health, U.S. Department of Health and Human Services. 1 de fevereiro de 2017. Consultado em 15 de julho de 2017. Cópia arquivada em 28 de julho de 2017
↑ abcde «Safe Prevention of the Primary Cesarean Delivery». American Congress of Obstetricians and Gynecologists and the Society for Maternal-Fetal Medicine. Março de 2014. Consultado em 20 de fevereiro de 2014. Cópia arquivada em 2 de março de 2014
↑ ab «WHO Statement on Caesarean Section Rates» (PDF). 2015. Consultado em 6 de maio de 2015. Cópia arquivada (PDF) em 1 de maio de 2015
↑ Lauwers, Judith; Swisher, Anna (2010). Counseling the Nursing Mother: A Lactation Consultant's Guide (em inglês). [S.l.]: Jones & Bartlett Publishers. p. 274. ISBN 9781449619480. Cópia arquivada em 11 de setembro de 2017
↑ American Congress of Obstetricians and Gynecologists, «Five Things Physicians and Patients Should Question», American Congress of Obstetricians and Gynecologists, Choosing Wisely: an initiative of the ABIM Foundation, consultado em 1 de agosto de 2013, cópia arquivada em 1 de setembro de 2013
↑ Yeniel, AO; Petri, E (janeiro de 2014). «Pregnancy, childbirth, and sexual function: perceptions and facts.». International urogynecology journal. 25 (1): 5–14. PMID 23812577. doi:10.1007/s00192-013-2118-7
↑ abcd Molina, G; Weiser, TG; Lipsitz, SR; Esquivel, MM; Uribe-Leitz, T; Azad, T; Shah, N; Semrau, K; Berry, WR; Gawande, AA; Haynes, AB (1 de dezembro de 2015). «Relationship Between Cesarean Delivery Rate and Maternal and Neonatal Mortality». JAMA. 314 (21): 2263–70. PMID 26624825. doi:10.1001/jama.2015.15553
↑ ab Moore, Michele C.; Costa, Caroline M. de (2004). Cesarean Section: Understanding and Celebrating Your Baby's Birth (em inglês). [S.l.]: JHU Press. p. Chapter 2. ISBN 9780801881336
↑ «Taxa de cesariana põe Portugal na cauda da Europa». Consultado em 16 de Outubro de 2010
↑ «Interesse económico e cansaço dos médicos aumentam cesarianas»
↑ «Prática de cesarianas caiu menos no setor privado»
↑ «Estatísticas Vitais do Ministério da Saúde do Brasil». Consultado em 23 de Outubro de 2016
↑ Luz Gibbons (2010). «The Global Numbers and Costs of Additionally Needed and Unnecessary Caesarean Sections Performed per Year: Overuse as a Barrier to Universal Coverage» (PDF). WHO. Consultado em 6 de fevereiro de 2015
↑ «Parto Normal ou Cesária – É Mesmo uma Escolha?». 29 de janeiro de 2015. Consultado em 06 de Fevereiro de 2015 Verifique data em:|acessodata=
(ajuda)
↑ João Malalas, Cronografia, Livro IX [em linha]
↑ ERNOUT A. e MEILLET, A. - Dictionnaire étymologique de la langue latine. Paris: Editions Klincksieck, 1967.
↑ NASCENTES, Antenor, Dicionário etimológico da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1932.