Equação diferencial parcial
Um equação diferencial parcial ou equação de derivadas parciais (EDP) é uma equação envolvendo várias funções incógnita de várias variáveis independentes e dependente de suas derivadas. Estas equações surgem naturalmente em problemas de física matemática, física e engenharia. O estudo das equações diferenciais parciais é uma das áreas com mais intensa pesquisa em matemática, despertando interesse também em contextos de matemática pura.
EDPs descrevem fenômenos físicos cujo comportamento depende da posição, tais como eletrostática, eletrodinâmica, eletromagnetismo, dinâmica dos fluidos, difusão do calor, propagação de ondas. Muitas vezes, fenômenos físicos totalmente distintos podem ser modelados por EDPs idênticas.
Índice
1 Exemplos
2 Notação
3 Classificações
3.1 Quanto à ordem
3.2 Quanto à linearidade
3.3 Quanto à homogeneidade
4 Classificação de EDP's de 2ª ordem
5 Equações da física
5.1 Equação de Poisson
5.2 Equação do calor
5.3 Equação da onda
5.4 Equação de Laplace
5.5 Equação de Burgers
6 Resolução de equações simples
7 Método da transformada de Laplace
8 Referências
9 Ver também
10 Ligações externas
Exemplos |
Um problema simples de EDP consiste em buscar uma solução suave u(x,y):[0,1]×[0,1]→R{displaystyle u(x,y):[0,1]times [0,1]rightarrow mathbb {R} } satisfazendo:
∂u∂x=1 em (0,1)×(0,1){displaystyle {frac {partial u}{partial x}}=1{hbox{ em }}(0,1)times (0,1)}
∂u∂y=0 em (0,1)×(0,1){displaystyle {frac {partial u}{partial y}}=0{hbox{ em }}(0,1)times (0,1)}
u(x,y)=1 em {x=0}×[0,1]{displaystyle u(x,y)=1{hbox{ em }}{x=0}times [0,1]}
que admite solução u(x,y)=x+1{displaystyle u(x,y)=x+1}
O próximo exemplo é um caso particular da equação do transporte:
∂u∂t+v(t)∂u∂x=0,t>0{displaystyle {frac {partial u}{partial t}}+v(t){frac {partial u}{partial x}}=0,t>0}
u(x,t)=f(x), t=0{displaystyle u(x,t)=f(x),~t=0}
onde f(x){displaystyle f(x)} é uma função classe C1{displaystyle C^{1}} e
v(t){displaystyle v(t)} é uma função contínua dada e u(x,t){displaystyle u(x,t)} é a incógnita.
A solução desta equação é dada por:
u(x,t)=f(x+∫0tv(τ)dτ),t>0{displaystyle u(x,t)=fleft(x+int _{0}^{t}v(tau )dtau right),t>0}
Notação |
Existem muitas maneiras de expressar as EDPs, não sendo raro a mesma notação ter significados diferentes para autores diferentes.
Notações bastante difundidas são para a derivada temporal são:
∂u∂t=∂tu=ut=u′{displaystyle {frac {partial u}{partial t}}=partial _{t}u=u_{t}=u'}
Mais prolixas são as notações para as derivadas espaciais.
Se u:Rn→R{displaystyle u:mathbb {R} ^{n}to mathbb {R} }, onde x=(x1,…,xn){displaystyle mathbf {x} =left(x_{1},ldots ,x_{n}right)} então também são usadas as notações por operadores:
∇u=(∂u∂x1,…,∂u∂xn){displaystyle nabla u=left({frac {partial u}{partial x_{1}}},ldots ,{frac {partial u}{partial x_{n}}}right)}: Gradiente
∇2u=△u=∑i=1n∂2u∂xi2{displaystyle nabla ^{2}u=triangle u=sum _{i=1}^{n}{frac {partial ^{2}u}{partial x_{i}^{2}}}}: Laplaciano
Assim, a equação Tt+v⋅(∇T)=△T{displaystyle T_{t}+mathbf {v} cdot left(nabla Tright)=triangle T}, onde
v{displaystyle mathbf {v} } é um campo de vetores dado em Rn{displaystyle mathbf {R} ^{n}} significa:
∂T∂t+∑i=1nvi∂T∂xi=∑i=1n∂2T∂xi2{displaystyle {frac {partial T}{partial t}}+sum _{i=1}^{n}v_{i}{frac {partial T}{partial x_{i}}}=sum _{i=1}^{n}{frac {partial ^{2}T}{partial x_{i}^{2}}}}
Em problemas envolvendo fluxo de fluidos, é constume definir a derivada material:
DuDt=∂u∂t+v⋅(∇u){displaystyle {frac {Du}{Dt}}={frac {partial u}{partial t}}+mathbf {v} cdot (nabla u)} onde
v{displaystyle mathbf {v} } é campo de velocidades do fluido.
Classificações |
Quanto à ordem |
A ordem de uma equação diferencial parcial será dada pela ordem da mais alta derivada encontrada na equação:
∂2u∂x2+5∂u∂y+3u=0{displaystyle {frac {partial ^{2}u}{partial x^{2}}}+5{frac {partial u}{partial y}}+3u=0}
EDP de segunda ordem
Quanto à linearidade |
Uma EDP linear de 2ª ordem, com 2 variáveis independentes, tem a forma:
a(x,y)∂2u∂x2+2b(x,y)∂2u∂x∂y+c(x,y)∂2u∂y2+d(x,y)∂u∂x+e(x,y)∂u∂y+f(x,y)u=δ(x,y)(1){displaystyle a(x,y){frac {partial ^{2}u}{partial x^{2}}}+2b(x,y){frac {partial ^{2}u}{partial xpartial y}}+c(x,y){frac {partial ^{2}u}{partial y^{2}}}+d(x,y){frac {partial u}{partial x}}+e(x,y){frac {partial u}{partial y}}+f(x,y)u=delta (x,y)quad quad (1)}
- Exemplos
∂u∂t−a∂2u∂x2=0{displaystyle {partial u over partial t}-a{frac {partial ^{2}u}{partial x^{2}}}=0}
EDP linear (Equação da difusão linear)
∂u∂t+a∂u∂x=0{displaystyle {frac {partial u}{partial t}}+a{frac {partial u}{partial x}}=0}
EDP linear (Equação da convecção linear)
(1−u)∂u∂x+2u=ey{displaystyle (1-u){frac {partial u}{partial x}}+2u=e^{y}}
EDP não linear devido ao termo não linear (1-u) dependente de u
∂u∂x+cosu=0{displaystyle {frac {partial u}{partial x}}+cos {u}=0}
EDP nao linear devido à função não linear cos(u)
Quanto à homogeneidade |
Se na equação (1), δ(x,y)=0{displaystyle delta (x,y)=0}, a EDP é homogênea.
Classificação de EDP's de 2ª ordem |
As equações diferenciais parciais (EDP) de 2ª ordem podem ser classificadas em três tipos: hiperbólicas, parabólicas e elípticas.
Se a solução de um problema for descrito pela variável u = u(x,y), a EDP que expressa a relação entre u e as variáveis independentes x e y pode ser escrita, genericamente, como[1]:
auxx+2buxy+cuyy+dux+euy+fu=g{displaystyle au_{xx}+2bu_{xy}+cu_{yy}+du_{x}+eu_{y}+fu=g}
na qual a, b, c, d, f e g são constantes ou funções das variáveis independentes x e y. Os coeficientes a, b e c são tais que:
a2+b2+c2≠0{displaystyle a^{2}+b^{2}+c^{2}neq 0}
Se os coeficientes a, b e c forem constantes, pode-se classificar as EDPs lineares de forma análoga às curvas cônicas tridimensionais, através das seguintes relações:
- EDPs hiperbólicas: b2−4ac>0{displaystyle b^{2}-4ac>0}, raízes reais e distintas.
- EDPs parabólicas: b2−4ac=0{displaystyle b^{2}-4ac=0}, raízes reais e idênticas.
- EDPs elípticas: b2−4ac<0{displaystyle b^{2}-4ac<0}, raízes conjugadas complexas.
A classificação das EDPs nos três grupos representativos tem importância na sua análise teórica, na descrição de métodos numéricos e nas aplicações. A tabela a seguir mostra as principais EDP's de 2ª ordem e suas respectivas classificações:
Nome | Classificação | Equação |
---|---|---|
Equação de Laplace | elíptica | uxx+uyy+uzz=0{displaystyle u_{xx}+u_{yy}+u_{zz}=0} |
Equação de Poisson | elíptica | uxx+uyy+uzz=c{displaystyle u_{xx}+u_{yy}+u_{zz}=c} |
Equação de Fourier | parabólica | α(uxx+uyy+uzz)−ut=0{displaystyle alpha (u_{xx}+u_{yy}+u_{zz})-u_{t}=0} |
Equação da onda | hiperbólica | c2(uxx+uyy+uzz)−utt=0{displaystyle c^{2}(u_{xx}+u_{yy}+u_{zz})-u_{tt}=0} |
Equações da física |
Equação de Poisson |
A equação de Poisson descreve o potencial elétrico em eletrostática. Também modela estados estacionários (sem variação no tempo) da equação do calor.
- Δu=f(x){displaystyle Delta u=f(x)}
Equação do calor |
Se T(t,x){displaystyle T(t,x)} representa a temperatura num instante t{displaystyle t}, na posição x{displaystyle x} sobre uma barra, a equação de transferência de calor em uma dimensão é:
∂T∂t=a∂2T∂x2{displaystyle {partial T over partial t}=a{partial ^{2}{T} over partial {x^{2}}}}
onde a{displaystyle a} é uma constante. A função T{displaystyle T} é a variável dependente, e t{displaystyle t} e x{displaystyle x} são as variáveis independentes.
Equação da onda |
Uma função de onda, em duas dimensões, é uma função f(x,y,t){displaystyle f(x,y,t)} solução da equação
∂2f∂t2=v2(∂2f∂x2+∂2f∂y2){displaystyle {partial ^{2}{f} over partial {t^{2}}}=v^{2}{Bigg (}{partial ^{2}{f} over partial {x^{2}}}+{partial ^{2}{f} over partial {y^{2}}}{Bigg )}}
onde v{displaystyle v} é uma constante (velocidade de propagação). Neste caso, existem 3 variáveis independentes, nomeadamente, as duas coordenadas espaciais x{displaystyle x} e y{displaystyle y}, e o tempo t{displaystyle t}.
Equação de Laplace |
O potencial eletrostático V(x,y,z){displaystyle V(x,y,z)}, numa região onde não existam cargas, verifica a equação:
∂2V∂x2+∂2V∂y2+∂2V∂z2=0{displaystyle {partial ^{2}{V} over partial {x^{2}}}+{partial ^{2}{V} over partial {y^{2}}}+{partial ^{2}{V} over partial {z^{2}}}=0}
Os exemplos anteriores correspondem todos a equações lineares, nas quais uma
combinação linear de soluções é também solução.
Equação de Burgers |
A equação de Burgers modela processos convectivos unidimensionais:
ut+∂∂x(f(x)u)2=f(x,t){displaystyle u_{t}+{frac {partial }{partial x}}left(f(x)uright)^{2}=f(x,t)}
Resolução de equações simples |
As equações de derivadas parciais em que aparece uma única derivada, podem ser
integradas facilmente. Consideremos por exemplo a equação
∂2v∂x2=3y{displaystyle {frac {partial ^{2}{v}}{partial {x^{2}}}}=3y}
como a segunda derivada em ordem a x{displaystyle x} é igual à derivada da primeira derivada
parcial em ordem a x{displaystyle x}, portanto, a derivada parcial ∂v/∂x{displaystyle partial v/partial x} será igual à primitiva de 3y{displaystyle 3y}, ao longo de um percurso com y{displaystyle y} constante
∂v∂x=∫3ydx(yconstante)=3xy+f(y){displaystyle {begin{aligned}{partial {v} over partial x}&=int 3ydxqquad (y;{text{constante}})\&=3xy+f(y)end{aligned}}}
onde f(y){displaystyle f(y)} pode ser qualquer função arbitrária que não dependa de
x{displaystyle x}.
Integrando uma segunda vez, com y{displaystyle y} constante, obtemos a função v(x,y){displaystyle v(x,y)}
v=32yx2+xf(y)+g(y){displaystyle v={frac {3}{2}}yx^{2}+xf(y)+g(y)}
Esta solução é bastante geral, pois depende de duas funções arbitrárias f{displaystyle f} e
g{displaystyle g}. Para obter uma solução única, será necessário saber algumas condições
fronteira. As condições fronteira são tão importantes quanto a equação
diferencial para determinar a forma da solução, já que com diferentes
condições fronteira é possível obter soluções muito diversas.
Método da transformada de Laplace |
As equações de derivadas parciais lineares com condições iniciais, podem ser
resolvidas por meio da transformada de Laplace. As condições iniciais (na
variável t{displaystyle t}) para uma equação de ordem n{displaystyle n} em t{displaystyle t}, consistem nos valores da função e das suas primeiras n−1{displaystyle n-1} derivadas no instante t=0{displaystyle t=0}.[2] Se, por exemplo, a solução da equação for uma função de duas variáveis, v(x,t){displaystyle v(x,t)}, e a equação for de segunda ordem em t{displaystyle t}, as condições iniciais serão
v(x,0)=f(x)∂v∂t(x,0)=g(x){displaystyle {begin{aligned}v(x,0)&=&f(x)\{partial v over partial t}(x,0)&=&g(x)end{aligned}}}
onde f{displaystyle f} e g{displaystyle g} são duas funções de x{displaystyle x} dadas. A transformada de Laplace de v(x,t){displaystyle v(x,t)} será uma função v¯(x,s){displaystyle {overline {v}}(x,s)}, definida por meio do seguinte integral
v¯(x,s)=∫0∞e−stv(x,t)dx{displaystyle {overline {v}}(x,s)=int _{0}^{infty }e^{-st}v(x,t)dx}
As duas condições fronteira permitem calcular as transformadas das duas
primeiras derivadas, usando a propriedade da transformada da derivada; o
resultado obtido é
L{∂v∂t}=sv¯(x,s)−f(x)L{∂2v∂t}=s2v¯(x,s)−sf(x)−g(x){displaystyle {begin{aligned}&{mathcal {L}}{Big {}{partial v over partial t}{Big }}=s{overline {v}}(x,s)-f(x)\&{mathcal {L}}{Big {}{partial ^{2}{v} over partial {t}}{Big }}=s^{2}{overline {v}}(x,s)-sf(x)-g(x)end{aligned}}}
Como x{displaystyle x} e t{displaystyle t} são variáveis independentes, e como a transformada de Laplace foi definida em ordem a t{displaystyle t}, as ordem entre as derivadas em x{displaystyle x} e
a transformada de Laplace são independentes; por exemplo,
L{∂v∂x}=∂∂xL{v(x,t)}=dv¯dxL{∂2v∂x2}L{v(x,t)}=dv¯dx{displaystyle {begin{aligned}&{mathcal {L}}{Big {}{partial v over partial x}{Big }}={partial over partial x}{mathcal {L}}{big {}v(x,t){big }}={d{overline {v}} over dx}\&{mathcal {L}}{Big {}{partial ^{2}{v} over partial x^{2}}{Big }}{mathcal {L}}{big {}v(x,t){big }}={d{overline {v}} over dx}end{aligned}}}
Referências
↑ [1]
↑ [Equações Diferenciais e Equações de Diferenças. Porto: Jaime E. Villate, 26 de Abril de 2011. 120 págs]. Creative Commons Atribuição-Partilha (versão 3.0), Acesso em 22 julho. 2013.
Ver também |
- Equação diferencial linear
- Equação de Bernoulli
Ligações externas |
Equações Diferenciais e Equações de Diferenças, Jaime E. Villate (em português)