Sabedoria
Nota: Para o livro deuterocanônico da Bíblia de mesmo nome, veja Livro da Sabedoria.
Sabedoria (do latim sapere - que tem sabor, gosto[1]) é a condição de quem tem conhecimento, erudição.[2] O equivalente em grego "sofia" (Σοφία) é o termo que equivale ao saber (presente na formação de palavras como teosofia, significando ainda habilidade manual, ciência e sabedoria);[3]
O termo encontra definições distintas conforme a ótica filosófica, teológica ou psicológica. No sentido comum, a sabedoria é a qualidade que dá sensatez, prudência, moderação à pessoa, ao passo em que para a religião é o "conhecimento inspirado nas coisas divinas e humanas".[1]
Para os antigos gregos a deusa da sabedoria era Atena, sendo este um de seus atributos civilizatórios; esta divindade era também a detentora da verdade e da justiça, e protetora da cultura;[4] sua equivalente entre os romanos era Minerva.[5]
Índice
1 Histórico
2 Religião
2.1 Concepção judaico-cristã
2.2 Conceito no espiritismo
3 Conceito psicológico
4 Bibliografia
5 Referências
6 Ver também
7 Ligações externas
Histórico |
A humanidade se interessa pela compreensão da sabedoria desde seus primórdios; já no Antigo Egito a sabedoria é citada em registros que datam de 3.000 a.C. e os gregos acreditavam que ela seria uma dádiva que os deuses concediam aos filósofos, para com ela poderem contemplar a verdade; em sendo o objeto em si do saber filosófico, ela é a virtude que leva os homens à busca do bem, da verdade, do belo.[6]
Religião |
Concepção judaico-cristã |
A Bíblia é a fonte do saber divino: como está dito em Hebreus (1,3) que Deus é a origem de toda sabedoria, e no Eclesiastes (1,5): "Fonte de sabedoria é a palavra de Deus nos céus"; em sendo atributo divino, a sabedoria é portanto um objeto de estudo da teologia.[7] Esta visão levou à construção da ideia de que todas as ciências estariam, portanto, subordinadas à teologia, como preconizou no século XIII o estudioso, São Boaventura de Bagnoreggio: entender as coisas equivalia a entender a Deus que é a sabedoria e o criador - e seus ensinamentos estão nas Escrituras Sagradas; para se atingir a sabedoria, portanto, era mister compreender as palavras de Deus, e assim poder fazer uso do intelecto.[7]
Conceito no espiritismo |
Ver artigo principal: Lei do progresso
O espiritismo distingue a sabedoria do conhecimento teórico ou científico; ao enunciar uma "escala dos espíritos" Allan Kardec estabelece por padrão dez classes de espíritos que vão desde os que denomina "espíritos impuros" (décima classe) aos "puros" (primeira); assim, um espírito devotado à busca conhecimento e que menospreza o saber moral estaria na "quarta classe", a dos "espíritos sábios"; já aqueles que procuram aperfeiçoar suas qualidades morais de forma elevada compõem a "terceira classe", a dos "espíritos de sabedoria" que, mesmo possuindo limitações intelectuais, possuem um juízo reto sobre os homens e as coisas; ambas as características - saber e sabedoria, estão juntos à bondade nos espíritos da "segunda classe", a dos "espíritos superiores"; esta escala resume como deve ser a evolução espiritual do ser humano através das sucessivas encarnações, desde o grau mais primitivo até aquele em que a sabedoria é plena.[8] Kardec, assim, aproxima a visão espírita-cristã daquilo que pregavam os filósofos gregos Sócrates e Platão.[9]
Conceito psicológico |
A sabedoria está relacionada à experiência, à maturidade que o indivíduo adquire com a vida (em contraposição ao talento - que é uma habilidade natural; e à perícia, ou conhecimento técnico), e seu conceito psicológico evoluiu a partir de 1990 com os estudos das formas variadas da inteligência.[6]
A busca pela excelência no campo da psicologia positiva impulsionou a pesquisa empírica da sabedoria, associando-a à inteligência, e emprestando ao tema o cunho científico; por outro lado, no começo dos estudos, ainda na década de 1980, percebeu-se que o caráter das pessoas consideradas sábias trazia os seguintes aspectos: conhecimento, compreensão e experiência.[6]
A sabedoria, assim, é algo relacionado à aquisição de conhecimento, mas isto vem acrescido dos aspectos emocionais e afetivos que, quando resultam num comportamento adequado, podem levar a um nível excepcional do funcionamento da pessoa: ou seja, ela avaliou, sentiu e lidou com uma situação problemática de forma ponderosa e equilibrada.[6]
Seu estudo psicológico gerou duas teorias: a implícita e a explícita. Num resumo dos conceitos implícitos a sabedoria envolve inteligência, maturidade e criatividade - refletindo estado de espírito e comportamental equilibrados (internos da pessoa, portanto); já os adeptos das teorias explícitas dividem-se em três grupos conceituais: os que defendem ser a sabedoria um característica individual, própria da personalidade; os que dizem ser fruto do pensamento pós-formal e dialético e, finalmente, um "sistema especializado sobre o significado e a conduta da vida".[6]
Assim, de um lado se pode definir a sabedoria como o uso do conhecimento associado à experiência ou, contrariando este conceito, ser uma característica pessoal que certos indivíduos possuem como parte de sua personalidade, e não necessariamente ligado aos conhecimentos adquiridos em razão de treinamento recebido; neste último caso só se pode medir a sabedoria quando aplicada aos casos da vida, e não para a solução de propostas hipotéticas.[6]
Bibliografia |
- Barros-Oliveira, J. H. (2005). Sabedoria: Definição,dimensionalidade e educabilidade. Revista Portuguesa de Pedagogia, 39(2), 151-173
- Baltes, P. B., & Smith, J. (2008). The fascination of wisdom: Its nature, ontogeny, and function. Perspectives on Psychological Science, 3(1), 56-64. doi:10.1111/j.1745-6916.2008.00062.x
- Clayton, V. P., & Birren, J. E. (1980). The development of wisdom across the life span: A re-examination of an ancient topic. In P. Baltes & O. Brim, Jr. (Eds.), Life-span development and behavior (pp. 104-137). New York: Academic Press.
Referências
↑ ab Dicionário Aurélio, verbetes sabedoria, sábio e saber
↑ Dicionário Aurélio, verbete sabedoria.
↑ Dicionário Aurélio, verbete etimológico ~sofia
↑ André Rocha Sampaio (novembro de 2009). «Em Busca de Pallas Atena: o processo comunicativo entre o sistema direito e o sistema ciência» (PDF). Sociedade, Direito e Decisão em Niklas Luhmann - Anais, UFPE, Recife. Consultado em 2 de outubro de 2016
↑ s/a (s/d). «Minerva». Mundo dos Filósofos. Consultado em 2 de novembro de 2016
↑ abcdef Seille Cristine Garcia-Santos et. al. (mai-ago. 2012). «Excelência Humana: A Contribuição da Personalidade». Paidéia, Vol. 22, No. 52, 251-259. Consultado em 2 de novembro de 2016 Verifique data em:|data=
(ajuda)
↑ ab Conceição Solange Bution Perin (jan/2011). «A explicação de São Boaventura de Bagnoregio sobre a importância da compreensão das ciências pela via teológica» (PDF). Revista Brasileira de História das Religiões. Maringá (PR) v. III, n.9, ISSN 1983-2859. Consultado em 2 de novembro de 2016 Verifique data em:|data=
(ajuda)
↑ Allan Kardec (trad. Guillon Ribeiro) (1944 (1ª ed)). O Livro dos Espíritos, parte 2ª, capítulo I "Dos Espíritos", questões 109 a 114 72ª ed. [S.l.]: FEB. p. 94-95 Verifique data em:|ano=
(ajuda)
↑ Donaldo de Assis Borges (2009). «Os fundamentos histórico-filosóficos da ideia cristã e do espiritismo a partir das ideias de Sócrates e Platão» (PDF). Revista Brasileira de História das Religiões – ANPUH, Maringá (PR) v. 1, n. 3, ISSN 1983-2859. Consultado em 2 de novembro de 2016
Ver também |
- Inteligência
- Inteligência emocional
- Consciência
- Senciência
- Autoconsciência
Ligações externas |
- (em inglês)-Wisdom Lexicon Project